“Suicida”, diz Armínio Fraga sobre política fiscal do governo
Ex-presidente do Banco Central critica política de gastos e isenções, e vê na alta taxa de juros um sintoma
O ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, e o atual presidente da instituição, Gabriel Galípolo, debateram nesta segunda-feira, 6, o panorama econômico nacional, em um evento promovido pela Fundação FHC.
Para Fraga, a dinâmica da dívida pública é “complicada”, e os juros elevados são sintoma de uma política fiscal que ele classificou como “suicida”. Galípolo, por sua vez, defendeu a abordagem gradual da autoridade monetária na condução da taxa Selic.
Críticas à trajetória fiscal e prêmio de risco
O economista Armínio Fraga considera que as taxas de juros elevadas são o sintoma inequívoco da situação. A política de gastos e tributação insere um prêmio de risco nos investimentos, que restringe o horizonte de planejamento e afasta o investimento privado.
Ele também criticou os projetos do governo que concedem isenções tributárias. Tais medidas, na visão do ex-presidente do BC, ampliam a percepção de risco e pressionam as taxas de juros.
Fraga argumentou que o Banco Central fica compelido a operar neste cenário. Sem uma mudança de rumo na política fiscal, o BC não pode estabilizar a economia de forma isolada.
Em sua exposição, Fraga detalhou o peso do tema fiscal: “O tema fiscal é de longe o mais importante, e as taxas de juros são o sintoma inequívoco, mas vai além disso. Claro, isso embute um prêmio de risco, que, no fundo, encurta os horizontes das pessoas, amedronta o investimento, e que é reforçado por algumas políticas que são difíceis de se entender… essas isenções todas, isso pressiona as taxas de juros. O Banco Central é obrigado a imprimir, e o Tesouro paga. Nós estamos vendo agora um horizonte de dinâmica da dívida muito complicado”.
Horizonte de inflação e a postura do BC
Durante a conversa, Fraga indagou Galípolo sobre a possibilidade de alongar o prazo de convergência da meta inflacionária: “Não estou falando em afrouxar, mas é a ‘dosimetria’ da coisa, para usar a palavra da moda”, disse.
Galípolo recorreu a uma analogia com a administração de medicamentos. Ele defendeu que, desde o início do ciclo, a autoridade monetária tem ajustado a Selic de maneira gradual. O BC não aplicou a totalidade do tratamento de uma só vez.
O presidente do BC disse que a política não deve ser interrompida ao primeiro sinal de melhoria do quadro econômico. Ele reforçou a estratégia de manter o tratamento até que a inflação seja controlada.
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Comentários (1)
Marian
06.10.2025 18:03Too late Sr. Armínio, embora concorde. As consequências serão apenas reveladas após outubro de 26, não é?