Rodolfo Borges na Crusoé: Leila no clube das maravilhas
"Alice começou a pensar que pouquíssimas coisas eram, de fato, impossíveis”, diz o livro de Carroll, que poderia ser sobre o Palmeira

“Após tantos acontecimentos excepcionais, Alice começou a pensar que pouquíssimas coisas eram, de fato, impossíveis”, diz o narrador de Alice no País das Maravilhas, clássico de Lewis Carroll. Ele poderia estar falando sobre o Palmeiras de Leila Pereira.
A presidente do Palmeiras já foi comparada neste espaço à Cleópatra de Shakespeare. Na época da publicação do texto, há um ano, Leila justificava, em uma entrevista coletiva impetuosa cheia de recados, a opção por renovar contratos de seus jogadores em vez de fazer novas contratações.
Agora, a presidente do Palmeiras fala, em outra entrevista coletiva impetuosa cheia de recados, sobre as contratações milionárias de seu clube logo após ter sido empossada para um segundo mandato.
“Mais agressivo”
“É um Palmeiras mais agressivo. Vou ser bem sincera, porque não sou politicamente correta: às vezes o sucesso te deixa sem enxergar, com a vista meio nebulosa. O sucesso esconde algumas providências que deveriam ser tomadas anteriormente”, comentou, completando:
“A gente pensa ‘estamos ganhando tanto, nós vamos mexer em time que está vencendo?’ Eu percebi isso nesse ano que passou, eu não fiquei feliz com o desempenho do Palmeiras.”
“Mudança de posicionamento”
Leila falou em “mudança de posicionamento” após o que chamou de eliminações precoces de seu clube na Libertadores da América — que o Palmeiras ganhou duas vezes sob sua presidência — e na Copa do Brasil, e lamentou o segundo lugar no Campeonato Brasileiro.
A consequência da frustração foram as contratações dos atacantes Paulinho, do Atlético-MG, e de Facundo Torres, que chega dos Estados Unidos.
Sem falar no sonho de trazer Andreas Pereira direto da Premier League, no que seria uma das maiores demonstrações de força do futebol brasileiro nos últimos anos, tirando os investimentos cruzados de John Textor no Botafogo — ou seria no Lyon?
Organização
O poderio financeiro do Palmeiras vem da organização e da estabilidade, que permitem negociar com calma a venda de jogadores como Vitor Reis. O jovem deve sair por 35 milhões de euros para o Manchester City e se tornar o zagueiro mais caro já vendido por um clube brasileiro.
Endrick valeu pelo menos outros 35 milhões de euros ao Palmeiras, fora os bônus que poderiam elevar o valor para 60 milhões de euros desembolsados pelo Real Madrid. É mais ou menos o que Estêvão deve render ao clube alviverde ao rumar para o Chelsea.
Foi nesse contexto que Leila encarnou a Rainha de Alice no País das Maravilhas na entrevista coletiva e só faltou falar “cortem-lhe as asinhas” para Rony e Dudu — e nem seria preciso dizer mais nada, porque o recado foi exatamente esse.
Asinhas cortadas
“Alguns atletas, nós entendemos que colaboraram demais conosco, mas tudo na vida tem um ciclo”, disse a dirigente ao ser questionada sobre o futuro de Rony, cujo salário expressivo no Palmeiras é entrave para entendimento com o Fluminense.
Questionada sobre o caso de Dudu, a presidente do clube foi ainda mais taxativa. “O Dudu, no meio do ano passado, depois de ter sofrido aquela grave lesão, ficou quase nove meses parado, sendo tratado de uma forma como nós tratamos todos os nossos atletas, ele procurou o Cruzeiro”, contou.
“Eu autorizei. O Dudu foi vendido no meio do ano, só não foi formalizado, e aí vocês viram tudo o que aconteceu: foi vendido por um valor relevante para o Palmeiras, houve o envolvimento de torcida para que ele não fosse. Aí, ele não foi, e acabou indo no final do ano, gerando prejuízo de milhões para o Palmeiras”, reclamou.
“Eu estava certa”
A dirigente lembrou que tinha dito que o encerramento do ciclo de Dudu estava encaminhado. “E eu estava certa”, completou, dizendo que os casos de Rony e Dudu são diferentes, porque o primeiro sairia pela porta da frente, e o segundo saiu pela porta dos fundos.
Leila está sendo bem mais suave com Rony, o maior artilheiro da história do Palmeiras na Libertadores, do que com Dudu, mas o recado está dado: “Tudo na vida tem um ciclo”. Só que o entrave para que ele saia foi a alta renovação de salário, a estratégia de que a presidente do Palmeiras disse…
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