PF: Braga Netto usou sacola de vinho para repassar dinheiro a “kid preto”
Além do financiamento, o general também é acusado de tentar obstruir investigações sobre tentativa de golpe
Ao pedir a prisão do general Walter Braga Netto, a Polícia Federal afirmou que o ex-ministro da Defesa financiou uma ação dos oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, para assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin, em 2022.
Segundo a PF, o dinheiro para a execução do suposto golpe foi entregue em uma sacola de vinho, conforme relatado pelo tenente-coronel Mauro Cid em delação premiada.
O valor, ainda de acordo com a PF com base na delação, foi entregue ao major Rafael Martins de Oliveira, preso na Operação Contragolpe, para financiar as despesas necessárias para a realização da operação.
Além do financiamento, Braga Netto também é acusado de tentar obstruir as investigações sobre o caso.
A PF aponta que o ex-ministro buscou informações sigilosas sobre a delação de Mauro Cid e tentou manipular depoimentos para alinhar versões com outros investigados.
O tenente-coronel Mauro Cid relatou que Braga Netto e outros intermediários tentaram obter detalhes de sua colaboração premiada. O general também teria feito contato com o pai de Cid, o general Mauro Cesar Lourena Cid, para controlar o que seria repassado aos investigadores e garantir que aliados fossem mantidos informados.
A prisão preventiva de Braga Netto foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que também determinou buscas nos endereços ligados ao ex-ministro e seu principal auxiliar, coronel Flávio Peregrino.
A operação foi realizada na manhã deste sábado, 14 de dezembro, quando Braga Netto foi detido em sua residência, no Rio de Janeiro.
“Senta o pau no Batista Júnior”
Em 15 de dezembro de 2022, Braga Netto orientou o capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros a infernizar a vida do tenente brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Jr. e da família dele, após o então comandante da Aeronáutica ter se recusado a aderir a um golpe de Estado.
“Senta o pau no Batista Júnior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado na mordomia. Negociando favores. Dai [sic] para frente. Inferniza a vida dele e da família.”
A mensagem de Braga Netto foi identificada pela PF no telefone celular de Ailton.
O general também orientou o destinatário a elogiar o então comandante da Marinha, Almir Garnier, que, segundo os depoimentos de Batista Jr.e do ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, topou colocar as tropas à disposição de Bolsonaro quando o então presidente consultou os chefes das Forças Armadas sobre decretos golpistas.
A PF indagou a Baptista Jr. se a determinação de Braga Netto se deveu aos posicionamentos diferentes dele e de Garnier no contexto de tentativa de golpe de Estado.
Baptista Jr. “respondeu que sim”, segundo o relatório. No caso dele, “que se deve ao fato de não ter aderido à tentativa de golpe” e “que não negociou nenhum favor com qualquer pessoa”.
Confirmou também que ele e sua família sofreram diversos ataques, pressões e hostilidades de apoiadores de Bolsonaro visando mudar sua opinião sobre o tema.
A PF ainda apresentou a Baptista Jr. ataques que foram disparados a partir do telefone do próprio Braga Netto, “na rede social WhatsApp, contra a honra e dignidade do depoente”.
Leia também:
Os homens que barraram o golpe
Como Bolsonaro alimentou a “Rataria” – uma cronologia dos fatos
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)