Orlando Tosetto Júnior na Crusoé: Eu quero mocotó
Como disse Millôr no número 1 do Pasquim: “Nós, os humoristas, temos bastante importância pra ser presos e nenhuma pra ser soltos”

Em novembro de 1970, mais precisamente na sua edição número 72, O Pasquim publicou uma piada que botou na cadeia quase toda a sua redação.
Era uma reprodução do quadro de Pedro Américo da Proclamação da Independência. A piada estava no balãozinho em que D. Pedro I, em vez do “Independência ou morte”, dizia: “Eu quero mocotó”.
Esse foi o crime, cujo autor foi o cartunista Jaguar, e os coautores todos os que estavam na redação do jornal na hora em que a polícia chegou.
Contexto: na época, fazia sucesso uma música do Jorge Ben, gravada por Erlon Chaves, chamada “Eu também quero mocotó”.
A razão do sucesso é que, à parte a música ser boa, todo o mundo sabia muito bem que o tal mocotó que Ben e Erlon queriam não era o da geleia Colombo nem o do caldinho: “mocotó” era gíria popular para perna de mulher (e suas cercanias).
Era, pois, uma dessas músicas com letra de duplo sentido. Como tantas houve antes e depois no cancioneiro nacional. Entretanto, por qualquer razão a que a própria razão vira a cara na rua e finge que não viu, os militares pegaram dessa gíria e dessa música uma birra toda especial.
Deram prova disso logo depois dela ser apresentada no Festival Internacional da Canção de 1970.
Criaram encrenca: prenderam Erlon na saída do palco, e, segundo o costume, deram no pé da orelha dele aquilo que a gíria, desta vez a militar, chamava de “presta atenção”. Deram vários, aliás.
Ora, a fama histórica de D. Pedro I sempre foi de apreciador da iguaria, fama confirmada segundo a palavra indubitável de, entre outras, a Marquesa de Santos. A charge – boba, convenhamos – fazia graça misturando o pop da hora com o consabido priapismo imperial.
Mas os militares que…
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