Olavo: “Amor por algo mais importante que sua vida imuniza você contra certo tipo de sofrimento”
Mais um trecho sobre vocação, da entrevista de Felipe Moura Brasil com o filósofo Olavo de Carvalho para O Antagonista:FMB: Para a pessoa encontrar a sua própria vocação, você deu o exemplo de alguém capaz de ouvir loucos todos os dias. Muitas vezes a vocação traz esse elemento de você ser imune a alguns aspectos.OLAVO DE CARVALHO: Exatamente! Amor por uma coisa que é mais importante que a sua vida imuniza você contra um certo tipo de sofrimento, que você se torna mais capaz de suportar do que as outras pessoas...
Mais um trecho sobre vocação, da entrevista de Felipe Moura Brasil com o filósofo Olavo de Carvalho para O Antagonista:
FMB: Para a pessoa encontrar a sua própria vocação, você deu o exemplo de alguém capaz de ouvir loucos todos os dias. Muitas vezes a vocação traz esse elemento de você ser imune a alguns aspectos.
OLAVO DE CARVALHO: Exatamente! Amor por uma coisa que é mais importante que a sua vida imuniza você contra um certo tipo de sofrimento, que você se torna mais capaz de suportar do que as outras pessoas. Houve uma época em que sugeriram [ao meu filho] Pedro que fizesse um curso de enfermagem. Eu falei: ‘Pedro, você vai aguentar? Você vai ter que lavar o saco dos caras, você vai aguentar isso aí?’ Ele falou ‘não’. ‘Então, se você não aguenta, isso não é a sua vocação.’ Mas para quem está naquilo vocacionalmente, todo sacrifício é válido e é bom. Fortalece a personalidade do indivíduo. Então a gente tem de ver qual é o tipo de sacrifício que pode fazer.
Eu, por exemplo, tenho uma resistência extraordinária à burrice. Eu aguento doses de burrice que [se fosse] outra pessoa [no meu lugar] mataria o interlocutor. Eu, não. Eu explico, reexplico, mil vezes, duas mil vezes, não tem problema. Eu sou um professor, eu nasci para ensinar. E ensinar, por definição, é ensinar o que os outros não sabem.
Agora, quando eu via o Müller trabalhando com aqueles louquinhos, eu falava: ‘Eu aguentaria isso?’ Mas nem por dez minutos! E, no entanto, ele trabalhava 14 horas por dia! Era um negócio assim incrível. E ele, quando era jovem, levou um coice de um cavalo, perdeu um pulmão. Depois foi trabalhar como gerente de uma fábrica de tinta, se envenenou, perdeu metade do outro pulmão. Então era um homem que não tinha saúde absolutamente e trabalhava que nem um doido. Era a paixão da vida dele. Ele se sacrificava. Às vezes eu via: ele telefonava para o paciente às 2 horas da manhã: ‘Ô, tive uma ideia para resolver o seu problema!’ (Risos). Era fantástico! A dedicação dele é a mesma que eu tenho no ensino.
Lutero tem toda uma teologia da vocação. Eu achei que, quando entrassem todas essas igrejas evangélicas no Brasil, elas iam ensinar isso para as pessoas. Nunca vi nenhuma igreja evangélica falar disso. Esses caras não leram nem Lutero.
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