Ministério da Bala
O primeiro movimento contra Sergio Moro no Ministério da Justiça e da Segurança Pública surgiu em meados de 2019 e era capitaneado pelo ex-deputado Alberto Fraga, que defendia a divisão da pasta. Fraga queria a...
O primeiro movimento contra Sergio Moro no Ministério da Justiça e da Segurança Pública surgiu em meados de 2019 e era capitaneado pelo ex-deputado Alberto Fraga, que defendia a divisão da pasta.
Fraga queria a recriação do Ministério da Segurança Pública para ele mesmo comandar. Tinha o apoio de Fernando Francischini, que almejava ficar com a pasta da Justiça ou mesmo à frente da Polícia Federal.
Jair Bolsonaro resistiu ao lobby por dois motivos: os enroscos de Fraga com a Justiça e a briga com Francischini no PSL — ambos os problemas acabaram resolvidos.
Quando Moro deixou o governo diante das interferências do presidente, Fraga e Francischini se uniram para indicar um nome comum para substitui-lo: o do delegado Anderson Torres. Mas Bolsonaro queria alguém em quem pudesse confiar 100% e indicou André Mendonça.
Na ocasião, Fraga disse que Mendonça era “um nome de grande saber jurídico”, mas não saberia dizer “quantas balas tem um revólver 38”. Enquanto esperava uma nova oportunidade, Torres permaneceu como secretário de Segurança Pública do governo de Ibaneis Rocha.
A nova oportunidade surgiu no domingo, quando Bolsonaro telefonou para o delegado convidando-o a assumir o MJSP. A nomeação de Anderson Torres atende a um movimento político do presidente de olho em 2022.
Bolsonaro precisa do PSL, que agora terá um importante ministério para chamar de seu. Bolsonaro precisa reconstruir algumas pontes com os policiais federais, que se sentem traídos pelo congelamento dos reajustes da PEC Emergencial. Bolsonaro também quer atrair os PMs, como reserva de contingência contra governadores rivais.
Nada a ver com as demandas da pasta, mas tudo a ver com Anderson Torres, que se embrenhou na política há mais de uma década.
Como assessor parlamentar de Fernando Francischini por 8 anos, o delegado da PF conheceu os meandros do Congresso, fez amizade políticos, como Eduardo e Flávio Bolsonaro, e assessores de políticos, como Jorge Oliveira (hoje ministro do TCU), coordenou comissões sobre segurança pública e integrou a direção da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.
Na prática trocou o colete pelo paletó.
Como secretário de Segurança de Ibaneis, aprofundou nos últimos dois anos seus laços com a bancada da bala e figurões do entorno presidencial. Discreto, vai servir como correia de transmissão dos interesses da família Bolsonaro sem se expor.
O novo ministro sabe bem quantas balas tem um 38, mas prefere que alguém dispare por ele.
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