Leonardo Barreto na Crusoé: Quanto menos Legislativo, melhor para o Executivo
O que o Brasil está experimentando é o primeiro governo minoritário da sua história que vai (até onde dá para ver) chegar ao seu final

Analistas políticos se sentiram nesta semana como se estivessem morando longe do Brasil.
Com todo o mundo político tupiniquim na China ou em Nova York, as notícias de bastidores e movimentações chegaram apenas por meio de “correspondentes” que cobriam os eventos.
Deve ser dureza para todos ter que voltar ao Brasil, essa grande plantação de abacaxis.
Hugo Motta e Davi Alcolumbre serão pressionados a abrir a CPI do INSS, a votar a anistia e a retaliar o STF pelo cancelamento do cancelamento do processo contra Alexandre Ramagem, Jair Bolsonaro e outros.
Lula terá que enfrentar as pesquisas de opinião, que devem refletir o escândalo do INSS, preparar uma estratégia para a gestão de uma possível CPI, assumir que o rombo será coberto com recursos do Tesouro e que, por isso, a Fazenda ordenará bloqueios e contingenciamentos do Orçamento, mexendo até com emendas parlamentares.
Para superar essa maré ruim, o governo prepara uma grande ofensiva.
Vem aí a gratuidade de energia elétrica para famílias no CAD Único, o novo Gás para Todos, crédito para entregadores de aplicativos reformarem suas motos e anúncio do aumento do Bolsa Família de 600 reais para 700 reais.
Somam-se a essas medidas as já anunciadas linhas de subsídios para a classe média no Minha Casa Minha Vida e a isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais.
No conjunto da obra, o dínamo das instituições brasileiras é de um governo que só investe em pautas populistas e corteja os presidentes das Casas para não ter que enfrentar agendas negativas.
As lideranças parlamentares, que desejam atender ao Planalto, são empurradas pelo baixo clero a dar vazão à torrente oposicionista, sendo forçadas a andar na corda bamba o tempo todo.
Tem sido comum categorizar esse estado de coisas como um governo em crise. Mas essa leitura talvez não seja precisa.
O que o Brasil está experimentando é o primeiro governo minoritário da sua história que vai (até onde dá para ver) chegar ao seu final.
Nossa tradição política sempre dotou o Executivo de condições de construir maiorias em Congressos.
Quando isso não acontecia por razões circunstanciais, normalmente o presidente não terminava o mandato.
Hoje, o Congresso é claramente conservador e refratário à ideologia progressista de Lula.
Sem recursos de outrora para adquirir apoio parlamentar, o governo administra limitando ao máximo sua agenda de projetos, priorizando pautas fáceis e trabalhando as lideranças para evitar as situações difíceis.
É possível que essa dinâmica seja o novo normal e que outros governos de minoria sejam constituídos mais à frente.
Se vivêssemos em um parlamentarismo, o gabinete sem apoio caía e se formava outro.
No presidencialismo, no entanto, polos opostos podem ser obrigados a conviver e o equilíbrio possível deve se parecer bastante com esse que presenciamos hoje.
É por isso que, entre recessos…
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