Ex-chanceler paraguaio foi alvo de espionagem da Abin?
A Agência Brasileira de Inteligência teria acessado, sob o governo Lula, documentos do ex-ministro das Relações Exteriores do Paraguai Julio Arriola

Documentos produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o governo Lula apontam que o ex-ministro das Relações Exteriores do Paraguai Julio Arriola (foto) foi alvo de espionagem da agência em março de 2023, publicou o Uol.
A ação ocorreu às vésperas de uma viagem do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ao país vizinho.
Segundo o portal, a Abin conseguiu acesso a uma cópia da minuta do discurso de Arriola.
A data de criação do documento, que foi apreendido pela Polícia Federal nos computadores e pendrives da agência no âmbito do inquérito da Abin paralela, é de 8 de março de 2023, primeiro ano do terceiro governo Lula.
Os metadados do arquivo apontam um funcionário da diplomacia paraguaia como autor da minuta, comprovando que ela foi produzida pela equipe do então chanceler paraguaio.
Um dos temas do encontro era a negociação de preços da hidrelétrica Itaipu.
“Em 28 de fevereiro de 2023, Itaipu Binacional processou o último pagamento de 115 milhões de dólares da dívida de construção da hidroelétrica. Com ele, o Estado paraguaio adquiriu um patrimônio valioso estimado em 63.500 milhões de dólares, em igualdade de condições e direitos”, dizia parte do documento.
O encontro entre os chanceleres ocorreu em 9 de março de 2023.
A operação da Abin
Um servidor da agência de inteligência contou à Polícia Federal, em depoimento, que a Abin hackeou autoridades do governo do Paraguai para obter informações relacionadas à negociação de tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu Binacional, objeto de disputa comercial entre os dois países.
Embora o planejamento tenha começado ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL), a ação foi executada com a autorização do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
O agente contou que a ação envolveu o uso do programa Cobalt Strike, usado para invasão de dispositivos de informática.
“O Cobalt Strike era uma ferramenta utilizada para o desenvolvimento de um artefato de intrusão em computadores do governo paraguaio para dados relacionados à negociação bilateral de Itaipu […] O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do anexo C dos valores de venda de energia produzida por Itaipu”, afirmou.
Em depoimento, ele disse que agentes da Abin fizeram três viagens para Chile e Panamá, de onde foram disparados os ataques, para montar os servidores virtuais usados na ação.
“Foram invadidos o Congresso paraguaio, Senado, Câmara e Presidência da República”, revelou o agente.
Os alvos eram “autoridades relacionadas diretamente à negociação e aos valores a serem cobrados por megawatt”.
“Foram capturadas [informações] de cinco ou seis pessoas”, acrescentou, sem mencionar a data da operação, as informações obtidas ou as identidades dos alvos.
“Não tem presidente da República no país?”
Diante do novo vazamento de informações sobre a espionagem da Abin contra autoridades paraguaias, o senador Sergio Moro (União-PR) cobrou o presidente Lula.
“Não tem Presidente da República no país para por ordem na disputa da Direção da PF contra a Direção da Abin? Ou tudo bem esse tipo de vazamento de dados de investigação da PF para prejudicar as relações internacionais do Brasil com o Paraguai (pela segunda vez)?”, questionou Moro no X.
Quando o escândalo foi revelado, o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rúben Ramirez (foto), convocou o embaixador paraguaio no Brasil, Juan Angel Delgadillo, para consulta imediata sobre a Abin.
Leia mais: Embaixadora reclama do vazamento de investigação sobre ação da Abin
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Comentários (3)
Marian
18.06.2025 12:18Não entendi, e a indignação de nossas autoridades demonstrada em 2013 ? Uma lei para todo mundo e outra pra mim?
Alexandre Ataliba Do Couto Resende
18.06.2025 12:02A ABIN fazendo espionagem com eficiência. Grande notícia...
Ernesto Herbert Levy
18.06.2025 09:38Acho que não entendemos quais são os serviços prestados por agências de informações de países. Colher informações sobre outros países, principalmente visando dar subsídios em negociações, faz parte das atribuições. Todo mundo espiona todo mundo. O errado é o vazamento de informações da Abin. É ser "descoberto". Não era para essa informação vazar. Pelo menos é assim que eu penso.