Dennys Xavier na Crusoé: Nem direita, nem esquerda
O mal atende pelo nome de coletivismo

coletivismo sustenta que o indivíduo não tem direitos, que a sua vida e trabalho pertencem ao grupo (à sociedade, à tribo, ao Estado, à nação) e que o grupo pode sacrificá-lo segundo seus próprios caprichos, para seus próprios interesses. A única forma de implementar uma doutrina desse tipo é por meio da força bruta. Por isso o autoritarismo sempre foi o corolário político do coletivismo”, escreveu Ayn Rand.
É fácil errar quando o preço por estar errado não é pago por quem erra, por quem aposta com o dinheiro tirado à força de terceiros.
É fácil defender “justiça social” — ou qualquer outra coisa assim adjetivada (porque basta qualificar substantivo aleatório com um “social” e os anjos do sentir-se bem consigo mesmo descem do céu para a festa da virtude sustentada pelos outros) – quando, para escorar aquela forma de “justiça”, normalizamos e legalizamos o avanço sobre a individualidade das pessoas, sobre as suas propriedades, seus corpos, seu tempo e seu esforço.
“Deixe-me oferecer-lhe a minha definição de ‘justiça social’: mantenho o que ganho e você mantém o que ganha. Não concorda? Bem, diga-me, então, o quanto o que eu ganho pertence a você – e por quê?”, pergunta um indignado Walter Williams.
Em que momento da nossa história perdemos o brio e a vergonha atrelados a uma condição servil? Em que momento aceitamos, sem qualquer resistência, a ideia de sermos descaradamente roubados por uma escória estatal?
Os coletivistas imaginam que problemas sociais poder ser resolvidos com boas intenções, “soluções” idealizadas, sentimentalismo.
Os efeitos práticos deletérios das tais soluções são, para eles, apenas um sucesso mal explicado. Se, numa visão ingênua, a capacidade humana supera tudo sempre, basta querer que tudo se resolverá.
Por isso, entre os coletivistas, haverá invariavelmente a insistência em medidas comprometidas apenas com o fracasso.
O itinerário que leva ao coletivismo de face estatal foi descrito em O caminho da servidão, do prêmio Nobel de economia, F. Hayek:
- há uma insatisfação generalizada com o curso lento dos processos democráticos. Imediatistas que tendemos a ser, diante de situações aparentemente insustentáveis, ansiamos por medidas rápidas, soluções mágicas para problemas graves;
- e quem é visto como a salvação? O Estado. Exige-se uma ação governamental rápida e decidida, capaz de eliminar os problemas evidenciados;
- logo, o homem ou partido que transmitir uma maios segurança acerca de seu poder de fazer com que tudo funcione conforme o esperado torna-se mais “sedutor”. Para isso, ele precisa demonstrar não apenas firmeza de propósito em seus discursos, mas também repercutir forte apoio popular.
Vale dizer, então, que as soluções efetivas pouco importam para um coletivista.
É preciso parecer querer resolver os problemas, fazer com que o maior número possível de pessoas sustente posições semelhantes sobre medidas governamentais a serem adotadas, não importa o quão trágica sejam na prática.
Eis que quando toda a sociedade é dominada por alguns propósitos específicos, de caráter messiânico, é inevitável que, vez ou outra, a crueldade se torne um dever.
Na estrutura coletivista, há um interesse especial pelas convicções e ações dos indivíduos. Cada membro da massa amorfa que compõe a sociedade deve ser útil para a causa, para o “bem maior”.
Padrões principiológicos são determinados para todos a fim de facilitar a identificação (dialetos ideológicos são um exemplo clássico).
O respeito e os prêmios são reservados àqueles que cooperam com os objetivos estipulados pela coletividade (a bem da verdade, um nome usado para ungir decisões tomadas por uma pessoa ou por um pequeno grupo de indivíduos ávidos pelo mando).
Sua dignidade advém exatamente da capacidade de cooperar, de se dissolver no todo em favor do todo, numa atividade grupal que confere sentimento de superioridade aos membros em relação aos que não fazem parte da tribo.
Como não existe tal entidade como “o público” – assim como não existe “sociedade” ou “as mulheres” ou qualquer outro grupo que defina pessoas por características exteriores – já que o público é apenas um número de indivíduos, a ideia de que “o interesse público” substitui interesses e direitos privados pode ter apenas um significado: que os interesses e direitos de alguns indivíduos têm precedência sobre os interesses e direitos dos outros.
Não se iluda. O coletivismo, em suas mais diversas faces constitutivas, está em todos os espectros políticos.
O que não faltam são exemplos e governos de “direita” e de “esquerda” que veem nos indivíduos apenas coisas a serem usadas como um fim que consideram superior.
E neste ponto está a chave para entender a ética coletivista: homens não devem, para coletivistas, serem fins em si mesmos.
Devem estar sempre a serviço de uma causa ou ideia que supera suas individualidades.
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