Dennys Xavier na Crusoé: A liberdade de escolher o próprio risco

13.06.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

Dennys Xavier na Crusoé: A liberdade de escolher o próprio risco

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 17.05.2025 08:30 comentários
Brasil

Dennys Xavier na Crusoé: A liberdade de escolher o próprio risco

Uma defesa filosófica da autonomia moral diante das "bets"

avatar
Redação O Antagonista
5 minutos de leitura 17.05.2025 08:30 comentários 1
Dennys Xavier na Crusoé: A liberdade de escolher o próprio risco
CPI das Bets. Foto: Pedro França/Agência Senado

Vivemos sob o espectro constante da tutela moral do Estado, como se a coletividade tivesse a missão superior de salvar o indivíduo de si mesmo.

O novo bode expiatório da temporada são as chamadas bets, as casas de apostas esportivas virtuais.

Denunciadas como vício, fraude ou degradação cultural, elas são o pretexto perfeito para reacender a velha tentação totalitária de eliminar a liberdade sob o disfarce do zelo público.

Mas é justamente aqui que se ergue a exigência filosófica inegociável da liberdade individual. Como nos lembra Murray Rothbard, em A Ética da Liberdade: “A essência do homem é a sua capacidade racional de escolher objetivos e meios; ao coagir o homem, o Estado rouba-lhe essa essência e, assim, comete uma agressão contra sua própria natureza”.

A aposta, como qualquer atividade voluntária entre adultos, é moralmente neutra: se você não concorda com ela, não aposte.

A tentativa de proibi-la ou regulá-la sob pretextos paternalistas não apenas infantiliza o cidadão, mas viola um princípio liberal fundamental: o de que cada pessoa é a melhor juíza dos próprios fins.

Friedrich Hayek, em Os Fundamentos da Liberdade, sublinha: “Não é pela possibilidade de fazer boas escolhas que o homem é livre, mas pela possibilidade de fazer escolhas – inclusive más”.

Diante das apostas, a resposta da sociedade deveria ser a da responsabilidade, não a da coerção.

O vício, se houver, deve ser tratado como qualquer outro comportamento desviante: pela medicina, pela moral ou pela própria experiência, e nunca pela anulação da liberdade de escolha.

O homem é um ser que vive em tensão entre o que é e o que deve ser, e encontra sentido ao assumir responsabilidade sobre seu próprio destino, não ao ser tutelado em sua jornada.

A tradição grega nos oferece aqui uma lição formidável. Sócrates, em sua Apologia, declara que preferiria obedecer ao seu “daimon” interior do que à ordem dos homens.

Ele compreendia que a liberdade da consciência, mesmo diante do risco, é superior à segurança imposta por decretos externos.

O discurso moderno contra as bets é, muitas vezes, mais expressão do que Ortega y Gasset chamou de “rebelião das massas” do que de uma preocupação real com o bem-estar dos indivíduos.

As massas desejam homogeneizar, regular, limitar. Mas a liberdade, por definição, é o direito de divergir, de errar, de perder … e de aprender.

Em um mundo verdadeiramente livre, o indivíduo tem o direito de arriscar, de jogar, de perder e de se reerguer — sem que o Leviatã venha lhe segurar a mão, nem lhe impor um colete de segurança.

A vida de um indivíduo livre não é um sistema de perfeições garantidas, mas o único arranjo social que respeita a sua dignidade como sujeito moral pleno.

Certo: uma coisa é o combate legítimo a práticas criminosas – como fraudes, lavagem de dinheiro, manipulação de resultados ou aliciamento de menores – e outra, profundamente distinta, é o impedimento arbitrário da liberdade de jogar, sob o pretexto genérico de “proteger o cidadão de si mesmo”.

O crime deve ser combatido com rigor, pois este sim constitui violação objetiva de direitos.

Mas a aposta voluntária, realizada entre partes livres e conscientes, não é um crime: é uma expressão do arbítrio humano, da proairesis como diriam os estóicos, ou da liberdade prática, na acepção aristotélica.

O erro fatal de nossos legisladores contemporâneos reside em confundir o ilícito com o arriscado, como se toda escolha imperfeita demandasse intervenção estatal.

Aquele que aposta com consciência, que calcula riscos e aceita as perdas como parte do jogo da vida, não está cometendo delito, mas exercendo sua soberania existencial.

E mesmo aquele que, levado por imprudência ou vício, compromete seu próprio bem-estar, deve responder pelas consequências: não ser tutelado preventivamente pelo Estado como se fosse um menor perpétuo.

Impedir um homem de apostar para livrá-lo do vício é como interditar a palavra para protegê-lo do erro; trata-se de uma inversão tirânica da pedagogia da liberdade.

É no diálogo com o risco, com a própria ignorância e com a possibilidade do equívoco que a alma se forma.

Não se forma pelo amparo asfixiante do Estado soviético, que tudo regula, mas pela fricção entre desejo e consequência, escolha e aprendizado (cá entre nós, um adulto que não consegue discernir sobre jogar ou não jogar nem deveria poder votar, mas não se vê político debatendo tal possibilidade).

Portanto, defendamos o combate intransigente a todo tipo de crime…

Siga a leitura em Crusoé. Assine e apoie o jornalismo independente.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Hanson: “Nunca vimos nada parecido na história militar”

Visualizar notícia
2

O livro vermelho do STF

Visualizar notícia
3

Lula pede suspensão de ações de vítimas do INSS contra União

Visualizar notícia
4

Câmara vai votar urgência de projeto que derruba aumento no IOF

Visualizar notícia
5

Crusoé: O que Alexandre de Moraes não entendeu sobre John Stuart Mill

Visualizar notícia
6

A hipocrisia de Hugo Motta no combate ao IOF

Visualizar notícia
7

Avião da Air India cai com 242 a bordo

Visualizar notícia
8

Reprovação ao governo Lula atinge recorde em nova pesquisa

Visualizar notícia
9

Brasil: a ordem dos privilégios e o império do crime

Visualizar notícia
10

CPI das Bets rejeita relatório de Soraya e não pede indiciamento de influencers

Visualizar notícia
1

Brasil: a ordem dos privilégios e o império do crime

Visualizar notícia
2

O livro vermelho do STF

Visualizar notícia
3

Lula pede suspensão de ações de vítimas do INSS contra União

Visualizar notícia
4

Hanson: “Nunca vimos nada parecido na história militar”

Visualizar notícia
5

Gleisi nega crise fiscal: "Só na retórica do mercado"

Visualizar notícia
6

O negacionismo do Êxodo e o antissemitismo gourmet

Visualizar notícia
7

"Não é neutro, imparcial e transparente", diz Moraes sobre big techs

Visualizar notícia
8

Quanto Haddad espera arrecadar com novo pacote fiscal?

Visualizar notícia
9

"Covardão, quase se borrando", diz Lula sobre Bolsonaro em depoimento

Visualizar notícia
10

Inflação na Argentina cai a 1,5% em maio, menor patamar em cinco anos

Visualizar notícia
1

Como um deserto virou o centro do mercado de luxo mundial

Visualizar notícia
2

Desvendando a valorização de imóveis classe A em São Paulo

Visualizar notícia
3

Rubio nega participação dos EUA em ataque de Israel contra Irã

Visualizar notícia
4

O pano de Lula para a corrupta Cristina Kirchner

Visualizar notícia
5

Israel lança “ataque preventivo” contra Irã

Visualizar notícia
6

O malabarismo de Moraes contra as redes

Visualizar notícia
7

O sincericídio de Barroso sobre censura

Visualizar notícia
8

Congresso americano aumenta pena por tráfico de fentanil

Visualizar notícia
9

Escândalo do INSS: Lula quer mãozinha do STF

Visualizar notícia
10

SIP exige libertação de jornalistas na Venezuela

Visualizar notícia

logo-oa
Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

apostas esportivas CPI das Bets liberdade
< Notícia Anterior

A verdade chocante sobre a pressão alta que ninguém te contou

17.05.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Quem são os reis da revanche no UFC — e como eles viraram o jogo

17.05.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (1)

tclsãopaulo

17.05.2025 10:27

Lanentavelmente, dá até pra entender defesa das Bets. Entretanto, em um país como o nosso, onde a maioria da população não tem condições de discernimento e portanto de escolha, entra em arapucas, tentando, desesperadamente, sair da miséria da qual o governo jamais a salva. É triste, que o segmento que mais deveria defender a ignorância e o desespero dos desamparados, faça o contrário!


Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Como usar um único tipo de proteína em vários pratos sem repetir o sabor

Como usar um único tipo de proteína em vários pratos sem repetir o sabor

Visualizar notícia
Como o cérebro decide o que deve ser esquecido?

Como o cérebro decide o que deve ser esquecido?

Visualizar notícia
O que diz o CTB sobre estacionar em frente a garagens, mesmo com o pisca-alerta ligado

O que diz o CTB sobre estacionar em frente a garagens, mesmo com o pisca-alerta ligado

Visualizar notícia
Crusoé: Em pré-campanha antecipada, Lula lança Pacheco em Minas

Crusoé: Em pré-campanha antecipada, Lula lança Pacheco em Minas

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.