Alexandre Soares Silva na Crusoé: Economia não existe
É uma ilusão, ou no máximo um estado de espírito, uma vibe.

Vou falar um negócio extremamente ignorante aqui. Quão ignorante?
Tão ignorante quanto um ensaio da Marcia Tiburi sobre fascismo. Ou até tão ignorante quanto um livro de poemas do Gregório Duvivier. É nesse nível. Vai ser brutal.
Por outro lado, às vezes acho que só devíamos escrever nossas ideias se, um pouco antes de sentarmos para escrever, sentimos uma sensação incômoda: a sensação de que estamos prestes a bancar os palhaços. Se algo não é arriscado assim de escrever, para que escrever?
Se uma ideia é plausível, para que se dar ao trabalho de expressá-la?
Deixe que uma pessoa plausível a expresse — você é simultaneamente melhor e pior do que isso.
E eis portanto minha justificativa para escrever o que vou escrever no próximo parágrafo.
Bom, minha tese, muito vívida e real na minha cabeça, é que economia não existe. É uma ilusão, ou no máximo um estado de espírito, uma vibe.
Por trinta anos tenho visitado a Argentina.
Em todo esse tempo, o Brasil teve, me diziam os jornais, pequenos bons momentos na sua economia, e longos maus momentos; crises, recuperações, comas, recuperações, e mais crises, seguidas de mais crises.
Seja como for, em bons ou em maus momentos econômicos, andando pelas ruas brasileiras eu não notava oscilação nenhuma: as calçadas sempre rachadas e sujas, os muros sempre pichados, a arquitetura sempre grotesca, as pessoas sempre com uma cara estúpida e sofredora, o crime sempre uma possibilidade.
E a Argentina, mergulhada todo esse tempo numa queda contínua e vertiginosa na pobreza, ou assim me diziam os jornais e os próprios argentinos, me mostrava nas ruas de Buenos Aires sempre a mesma coisa: os seus gramados e parques imaculados, seus palácios e estátuas públicas todos limpos; bares e restaurantes sempre cheios, muito bonitos, muito agradáveis.
Então como não querem que eu ache a economia uma superstição?
Agora, com Milei, me dizem que as coisas estão mudando.
Que turistas argentinos estão comprando tudo na Havan em Florianópolis.
Já alguns economistas que sigo garantem que não é assim, que Milei está empobrecendo a Argentina. Os dois lados tiram números amarfanhados das algibeiras para me convencer.
Quero acreditar no sucesso do Milei.
Como não quereria? Milei é um maluco descabelado que trata um Estado sul-americano do jeito que todos os Estados sul-americanos, e talvez todos os Estados do mundo, devem ser tratados — com desprezo completo.
Mas, seja como for, sei que quando voltar a Buenos Aires ela vai continuar bonita, limpa e civilizada como sempre.
Meu bolso talvez tenha mudado, mas a cidade vai ser a mesma que sempre foi.
***
Ainda existem bons filmes, e ainda existem, aqui e ali, bons livros; mas não existem mais críticos.
Não é estranho que as pessoas ainda consigam fazer coisas boas, mas que ninguém consiga falar nada interessante sobre isso?
***
Não gosto da expressão “síndrome de vira-lata” porque o Brasil só vai pra frente quando aceitarmos o vira-lata como um grande animal.
É o nosso animal totêmico.
Vão dizer que um vira-lata caramelo, ou mesmo um não caramelo, é inferior a um urso polar, a um tigre? Não, né.
***
As ilustrações dos livros que lemos na infância, e esquecemos depois, continuam tendo um efeito na nossa psique.
Os cavaleiros medievais, as damas, os bruxos malignos, os ursos de cachimbo, continuam agindo dentro das nossas cabeças, e nos fazem todos os dias fazer isso e aquilo.
O que faltam são psicólogos para criar uma teoria a respeito disso.
***
Assim que você se converte para…
Siga a leitura em Crusoé.. Assine e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)