Trump, arrocho fiscal e o dilema intransponível do governo Lula
Sem uma agenda identitária popular, presidente tem apenas um único trunfo para manter-se vivo em 2026: capacidade de entrega de obras
O Palácio do Planalto está preocupado. Nunca antes na história desse país, esse bordão – que, por sinal, virou figurinha na mão de alguns integrantes do primeiro escalão do governo Lula – fez tanto sentido.
E não é para menos. A vitória de Donald Trump fortaleceu a direta em todo o mundo e mostrou, de uma vez por todas, que (ao menos por enquanto) o discurso propagado pela esquerda a partir de princípios da cultura woke é absolutamente ineficaz e só aos já convertidos rende algum fruto eleitoral.
É um sinal uníssono de alerta: se a esquerda (brasileira e mundial) não pode mais contar com determinados discursos (intervenção estadual, liberação de drogas ou flexibilização de aborto) para propor alguma mudança de ares ao cidadão, os progressistas vão propor que tipo de esperança? Econômica?
Eis aí o dilema irresolúvel do governo Lula. Como os petistas – de olho no pleito municipal de 2024 – não conseguiram controlar as contas públicas e apostaram apenas no sucessivo aumento de arrecadação para conseguir fechar o caixa no zero a zero, o mercado agora cobra (alto) o preço da fatura e o Palácio do Planalto será obrigado a cortar na própria carne para conseguir ‘despiorar’ o que já é extremamente ruim.
Só que Lula não quer. Tanto que terceirizou a responsabilidade para o Congresso Nacional em entrevista concedida nesta quarta-feira à Rede TV. “Se eu fizer um corte de gasto, para diminuir a capacidade de investimento do orçamento, a pergunta que eu faço é a seguinte: o Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores?”, disse o presidente.
E sabem por qual motivo Lula não quer cortar gastos? Por uma singela razão: sem capacidade de fazer investimentos, Lula – e o PT – perdem seu único trunfo eleitoral para 2024: a capacidade estatal induzir a melhoria da economia a partir do fomento de obras em todo o país.
Sem obras, sem capacidade de entrega, Lula vê-se estrangulado pela própria irresponsabilidade fiscal. Ministros como o de Transportes, Renan Filho (MDB), cantaram nas últimas horas essa pedra em um grupo de WhatsApp de integrantes do Palácio do Planalto: se o governo Lula não apertar o cinto agora, o Poder Executivo não terá como arcar com investimentos no futuro.
O tempo joga contra o governo Lula. Mas a claque petista acredita que dinheiro nasce em árvore. Talvez em 2026 Lula aprenda que a realidade não é tão utópica assim.
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