Trump alimenta a esquerda; é um desserviço
Eu pergunto: qual a necessidade de anular as penas de criminosos legalmente processados e condenados? Muitos deles confessos, aliás.

Donald Trump é como um mamute em uma loja de cristais. Não apenas quebra quase tudo – diplomaticamente, no caso – com seu corpanzil desajeitado (leia-se modos), como pulveriza peças raras (acordos importantes), de gerações passadas (aliados históricos). E não precisava ser assim. Ao contrário. Tal comportamento acaba favorecendo discursos – reais e fictícios – da esquerda retrógrada mundo afora, que custam votos, eleições e, principalmente, rótulos generalizados à direita.
Eu pergunto: qual a necessidade de anular as penas de criminosos legalmente processados e condenados? Muitos deles confessos, aliás. Uma das instituições mais caras a um americano é a Justiça; suas leis. Sim. Há muita desconfiança e também coisas erradas no sistema judicial americano, mas é o pilar da maior e mais bem-sucedida experiência democrática do planeta, e reconhecida e admirada pelos cidadãos. A figura do policial, principalmente, é amplamente valorizada e respeitada.
Em suas canetadas iniciais sem freios, Trump livrou da cadeia um sujeito que mantinha uma plataforma de comércio de drogas na chamada Deep Web – esgoto do esgoto da internet mundial, por onde tráfico de drogas, venda de armas, comércio de órgãos humanos, pedofilia e toda sorte de escória transitam clandestinamente. Através de sua rede, 214 milhões de dólares em narcóticos foram comercializados. Preso, alegava ser mero “dono de comércio eletrônico”, sem responsabilidade pelos crimes que ocorriam por lá.
Maioria indignada
Ok, com muita benevolência e vontade de se admitir “limite de responsabilidade” – algo que Trump defende ao lado das Big Techs -, podemos “dar de boa” e aceitar o perdão presidencial. Mas libertar os invasores do Capitólio (6 de janeiro de 2021), uma horda golpista que, incentivada pelo próprio Trump, não apenas atentou contra a democracia americana como vitimou policiais e seguranças? Não. Não me parece aceitável. Uma pesquisa da Reuters, inclusive, mostrou uma rejeição de 60% da população.
Não satisfeito, ato contínuo, perdoou dois policiais condenados pelo assassinato de um rapaz negro, de 20 anos, em Washington, DC, em 2020. Trump tornou-se uma espécie de “Supremo do Supremo americano”, atuando como revisor de decisões judiciais, o que atenta claramente contra a independência dos poderes. Lembrando que o ex-presidente Joe Biden perdoou o próprio filho, também condenado pela Justiça, sendo duramente criticado pelos republicanos (também) por conta disso.
A questão migratória é outro tema que chama a atenção. Por que não simplesmente combater a imigração ilegal e tomar as medidas judiciais necessárias? Por que atacar os imigrantes, acusá-los generalizadamente de crimes, inventar mentiras grotescas, prometer deportação em massa (que não irá ocorrer) e enviar o exército para a fronteira com o México, para evitar “uma invasão catastrófica” (uma mentira, obviamente)? Basta defender a legalidade e atuar contra a ilegalidade, que não haverá discussão.
São fatos, e não, opiniões
Sem falar nas ameaças diplomáticas e comerciais em série, como sobretaxar importações, tributar empresas estrangeiras, anexar a Groenlândia, tomar o canal do Panamá, rebatizar o Golfo do México e tornar o Canadá estado americano. Trump suspendeu os aportes à Organização Mundial de Saúde (OMS), retirou os EUA do Acordo de Paris e ameaça não enviar recursos para a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Ou seja, um isolacionismo unilateral com graves consequências internacionais.
Em recado ao ditador Vladimir Putin, carrasco russo que invadiu a Ucrânia, dentre ameaças veladas, falou em represálias econômicas e comerciais (que já estão em curso e não adiantaram nada). Porém, ameaçou não apenas em nome dos Estados Unidos, mas dos “países participantes”, leia-se aliados. Ou seja, ao mesmo tempo em que hostiliza a OTAN, a cita como forma de pressão. Trump realmente pensa que é dono de tudo e de todos, que é o dono da verdade e que o mundo deve ajoelhar-se perante os EUA.
“Ah, Ricardo, isso é tática”. “Ah, Ricardo, é o jeitão meio louco dele mesmo”. “Quem é você, Ricardo, para querer ensinar um bilionário – e presidente dos Estados Unidos pela segunda vez – o que fazer?”. Bem, meus caros, minhas caras, minhes cares (não dá para não ridicularizar, né?), não se trata disso. Trata-se somente de análise. A meu ver, Donald Trump presta um enorme desserviço à direita mundial. Além, é claro, de tumultuar desnecessariamente um cenário global que já anda pra lá de confuso e perigoso. Quanto menos incendiários, melhor.
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Comentários (1)
Guilherme Rios Oliveira
23.01.2025 15:44Concordo!!!