Show na UTI
Moraes montou o palco para Bolsonaro se apresentar direto da UTI na quarta-feira, 23, e o ex-presidente não perdeu mais uma oportunidade de sofrer em público

É legítimo que um político se valha da própria debilidade para conseguir apoio popular? No caso de Jair Bolsonaro, que foi ferido em contexto político e ficou com sequelas graves, é possível argumentar que sim. Mas isso não quer dizer necessariamente que ele deveria fazê-lo.
Bolsonaro e família distribuíram diversas imagens de sua convalescença, o que levou a vereadora Janaína Paschoal (PP), que virou uma espécie de consciência pública da direita brasileira, a fazer um pedido ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ): “Não use a doença dele para se alavancar”.
Do ponto de vista político, o limite do show de Bolsonaro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde foi parar pela sétima vez por causa da facada sofrida durante a campanha de 2018, está na sua efetividade: o sofrimento será percebido como autêntico ou oportunista?
Oficial de Justiça
Por enquanto, o ápice político-midiático da passagem do ex-presidente pelo hospital foi a visita de uma oficial de Justiça (foto), devidamente filmada por 11 minutos e compartilhada pelas redes sociais de Bolsonaro, com o tradicional pedido de “Peço divulgação”.
Alvo de intimação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o ex-presidente aproveitou para refazer seu discurso de defesa e se expor como vítima de uma perseguição que não respeita nem internação hospitalar.
Em menos de três horas, o vídeo já contava um milhão de visualizações no X e 11 milhões no Instagram. Desde que Bolsonaro foi internado, em 11 de abril, há 12 dias, foram publicados 10 vídeos do ex-presidente no hospital na rede social de Mark Zuckerberg.
Live
O mais assistido foi aquele em que Bolsonaro aparece caminhando após a cirurgia, visto mais de 20 milhões de vezes. A marca deve ser ultrapassada pelo registro da intimação judicial, que já ultrapassou 17 milhões de views foi feita após Bolsonaro participar de uma live, como justificou Moraes:
“Em virtude da internação do ex-Presidente Jair Bolsonaro, foi determinado que se aguardasse uma data adequada em que pudesse, normalmente, receber o oficial de Justiça. A divulgação de live realizada pelo ex-Presidente na data de ontem (22/4) demonstrou a possibilidade de ser citado e intimado hoje (23/4).“
O ministro do STF indicou pressa em sua decisão, ao destacar que “todos os réus já haviam sido citados entre os dias 11 e 15 de abril“, referindo-se ao primeiro grupo de réus pela trama golpista, mas é possível interpretar também implicância de Moraes. E é nesses detalhes que o impacto moral da provável condenação de Bolsonaro vai perdendo força.
Palco
O relator do processo da trama golpista montou o palco para Bolsonaro se apresentar na quarta-feira, 23. Sem vislumbrar a possibilidade de absolvição, o ex-presidente faz como Lula fez na Operação Lava Jato, e vai desqualificando os responsáveis pelo processo, na esperança de colher os frutos em algum momento.
Hoje, o esperneio de Bolsonaro pode não parecer tão relevante, mas basta lembrar do caso do petista, que chegou a ser preso antes de ter os processos anulados por subterfúgios jurídicos e voltar ao Palácio do Planalto, para reconhecer que, por mais vulgar que seja, o show de Bolsonaro no hospital pode não valer muito, mas não é de graça.
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Comentários (2)
Mariade
24.04.2025 11:46Pelo menos serviu para o nobre jornalista admitir que Bolsonaro " foi ferido em contexto político e ficou com sequelas graves", coisa que quase nunca acontece.
Marcia Elizabeth Brunetti
24.04.2025 08:09Tem horas que desanima! Olha só esse filminho rodando por milhões de fanáticos, idólatras? Espero que Bozo tenha um grande comprometimento de sua saúde para que não se veja capaz de concorrer nem a síndico de prédio.