Senado prova que, no Brasil, nada está tão ruim que não possa piorar
Se uma empresa tem mais trabalhadores que o necessário, ou diminui-se o número de horas trabalhadas, com a redução proporcional dos vencimentos, ou demite-se o excedente

Chega a ser difícil encontrar palavras adequadas para definir o sentimento que me ocorre, sem que eu resvale em uma tremenda falta de educação ou mesmo em algum destes tipos de ofensa contra a honra. Em tempos de STF criminalizando quaisquer críticas mais ácidas, todo cuidado é pouco.
Aquele ditado que diz que “nada está tão ruim que não possa piorar”, é uma espécie de norte para a casta política brasileira. Os figurões dos três poderes não se cansam de nos mostrar o quão infames são, como se já não bastassem os salários, benefícios e regalias impensáveis aos cidadãos comuns.
Véspera de carnaval, a brazucada pulando, cantando, bebendo e “otras coisas más”, como se não houvesse amanhã, e o Senado transformando o fim da escala 6×1 em passeio no “Parque da Produtividade”. O palhaço e deputado federal Tiririca (PL-SP) nunca teve razão ao dizer para votarmos nele, porque “Pior não fica”.
Muito dinheiro, pouco serviço
Os congressistas, via de regra, trabalham apenas de terça a quinta-feira. Alegam que nos outros dias trabalham em suas bases. Claro que pagamos por isso, como por passagens aéreas e tudo mais. Aliás, pagamos apartamentos funcionais e alugueis caríssimos em Brasília, para os caras usarem menos da metade do ano.
O Congresso Nacional é um dos mais caros do planeta. Em 2023, nos sugou mais de 13 bilhões de reais. Algo como 40 milhões de reais todos os dias. Só no Senado, são cerca de seis mil funcionários, trabalhando muito pouco ou quase nada. Injustiça minha? Bem, segundo a nova regra 4×3, não. Explico.
O novo presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), acaba de conceder uma folga, para cada servidor, após três dias trabalhados. Sim, é isso mesmo. Trabalhou três dias seguidos, poderá folgar um – além dos sábados e domingos, é claro. E se preferir trabalhar, receberá dobrado por isso.
Ilha da Fantasia
Não entendeu? Vou desenhar: o servidor trabalha, sei lá, terça, quarta e quinta-feira, igual aos reis da cocada. Daí, muito cansados, poderão descansar na sexta, sábado e domingo, retornando à “vida mansa” na segunda-feira seguinte. Por isso “escala 4×3”. E vocês pensando que o fim da 6×1 (escala) era um problema.
Segundo o IBGE, cerca de 60% dos brasileiros vivem, ou melhor, sobrevivem com até um salário mínimo de rendimento mensal. Cerca de 90% dos trabalhadores do país recebem até R$ 3.5 mil mensais. A maioria trabalha, não 6×1, mas 7×7, pois fazem bicos ou cumprem dupla jornada pelos afazeres domésticos.
O funcionário público brasileiro já recebe, em média, duas vezes mais que um trabalhador em função equivalente da iniciativa privada. Este número sobe, levando-se em conta apenas o funcionalismo federal, e sobe ainda mais, levando-se em conta o servidor do Senado (em determinadas funções).
Piorou e vai piorar
Ou seja, é indigno a gigantesca parcela da população mais pobre do país ter de bancar essa mordomia inaceitável do Senado. Se está faltando serviço – e pelo visto está! -, que se mande embora o excesso de servidores e equilibre-se o número de funcionários e o montante de afazeres.
Se uma empresa tem mais trabalhadores que o necessário, ou diminui-se o número de horas trabalhadas, com a redução proporcional dos vencimentos – quando a legislação faculta -, ou demite-se o excedente. Do contrário, a empresa passará a ser deficitária e, em algum momento à frente, irá quebrar.
Mas na casa da viúva, não. Afinal, há dezenas de milhões de formigas operárias prontas para carregar o peso mórbido do Estado-patrão. Tiradentes reclamava – e morreu – por 20% (de impostos). Hoje, a carga tributária beira 35% do PIB. Lembrei-me dos Paralamas do Sucesso: “Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou, são 300 picaretas com anel de doutor”.
Caramba! Eram só trezentos. Agora são seiscentos. Viram, como tudo pode piorar? Fora o Luís Inácio, né? Naquele tempo ele avisava. Hoje, sua história dispensa maiores comentários e explicações. Ah! O auxílio-alimentação (dos servidores do Senado) subiu 22% e foi a R$ 1.7 mil. Vai dar para comprar ovo e picanha.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (5)
ALDO FERREIRA DE MORAES ARAUJO
06.03.2025 00:00Avisando ao leitor Marcos: se apenas os próprios políticos, seus parentes, apoiadores, cabos eleitorais e o séquito de bajuladores e dependentes comparecerem às urnas e votarem nos candidatos, eles estarão eleitos. Votos nulos ou em branco não contam para nada.
MARCOS
05.03.2025 20:07FAÇAM COMO EU: NUNCA MAIS VOTEM EM POLÍTICO NENHUM.
Ita
05.03.2025 18:21Causa-me ASCO. É a corte que D. João deixou aqui quando voltou Portugal.
Carlos Augusto Lins Brito Da Silva
05.03.2025 17:48Realmente, o mundo dos senhores que habitam os três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - é com certeza outro, o Mundo da Fantasia - um verdadeiro paraíso. Coitado dos pobres brasileiros.
Eduardo
05.03.2025 17:23Nossa Versailles continua ignorando os brasileiros...