PT na zona de rebaixamento
O processo de reabilitação judicial do petismo não parece encontrar eco na população, que corre dos candidatos da partido nas urnas
De todas as análises e reclamações de petistas sobre o resultado do partido nas eleições municipais deste ano, a imagem mais certeira saiu da boca do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha: o partido está no Z4, uma alusão à famigerada zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro de futebol.
“O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas, na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 [em] que entrou em 2016, nas eleições municipais. Obteve conquistas importantes, eleição numa capital (Fortaleza), elegeu [em] cidades importantes no segundo turno, mas ainda tem um esforço de recuperação. Acho que o PT vai fazer uma avaliação sobre isso”, disse o ministro.
Presidente nacional do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) não gostou. Disse em suas redes sociais que é preciso “refrescar a memória do ministro Padilha” sobre “o que aconteceu conosco desde 2016 e a base de centro e direita do Congresso que se reproduz nas eleições municipais”, destacando que o suposto aliado “bem conhece” tudo isso.
Ladainha da “extrema direita”
“Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema direita”, analisou Gleisi, remoendo um discurso já mofado.
A petista seguiu, defendendo-se e atacando o colega de partido ao mesmo tempo: “Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças. Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados“.
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Para finalizar, a presidente nacional do partido, que vê sua alegada liderança (quem manda mesmo é Lula) questionada, botou sua devoção ao presidente da República no meio: “Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam”.
Só restou Lula?
Após o PT só eleger 252 prefeitos, tornando-se apenas o nono partido com mais prefeituras, mesmo tendo a máquina federal nas mãos, os petistas constatam internamente que só restou Lula (foto), cuja idade avançada já cobra seu preço, como mostrou a queda no banheiro. E o buraco é mais embaixo.
Repelido pelos trabalhadores de aplicativo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ameaçou pedir demissão nesta semana por supostamente estar sendo passado para trás pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Já Haddad observa de camarote a alta do dólar enquanto o governo não se entende sobre onde cortar gastos para sustentar a ilusão da responsabilidade fiscal.
Apenas Lula sobrevive eleitoralmente, com base na lembrança longínqua da bonança dos primeiros mandatos e no símbolo que criou de homem humilde, e que conseguiu sustentar aos olhos de boa parte da população apesar de ter enriquecido. Ninguém “gosta do pobre” como Lula, como diz o presidente em todos seus palanques.
O “pobre”
O problema é que o discurso de defesa da figura mítica do “pobre” não cola para seus herdeiros, como mostraram as empreitadas eleitorais do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e de Haddad. Pelo jeito, não basta dizer que “gosta do pobre”; é preciso ter sido pobre em algum momento para criar a identificação necessárias com os eleitores de menor renda.
Enquanto petistas mais pragmáticos, como o deputado federal Washington Quaquá (RJ), que se elegeu prefeito de Maricá pela terceira vez, e Lúdio Cabral, derrotado na disputa pela Prefeitura de Cuiabá, sugerem fazer concessões à pauta conservadora, quem detém os cargos de comando no partido prefere apontar problemas fora do PT.
Mãozinha do Judiciário
Essa ala do partido que acha que o PT nunca errou tem contado com uma mãozinha do Judiciário brasileiro, que reverbera o discurso petista de vítima em decisões judiciais que anulam condenações e suspendem multas impostas por operações policiais que revelaram os maiores esquemas de corrupção já desvendados no país.
O apagamento judicial desses processos não parece capaz, contudo, de apagar da memória do eleitor brasileiro o que ocorreu nas últimas décadas. É de se questionar, inclusive, se essa ajudinha não desgasta ainda mais o PT, pelo menos para a parte mais atenta do eleitorado, além de influenciar no aumento da abstenção a cada processo eleitoral.
Após o resultado da eleição municipal, Lula resta como último suspiro eleitoral do PT. Pode ser que ele consiga se reeleger em 2026, caso tenha fôlego para uma última campanha, mas é muito difícil enxergar um horizonte para o partido além disso, mesmo em meio à tentativa de reabilitação política de antigas lideranças como José Dirceu.
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