O que seria do governo sem a Janja?
Nas próximas eleições, prestarei mais atenção aos cônjuges, filhos, parentes e contraparentes dos candidatos

Alguém tem a mínima ideia se Lula tem a mínima ideia do que fazer com seu mandato?
Para evitar que o inacreditável Jair Bolsonaro fosse reeleito, gatos de todos os sacos se juntaram para que os eleitores indecisos juntassem votos suficientes. O problema de toda eleição, entretanto, é terminar eleito.
Lula foi amaldiçoado com a vitória e percebeu que as coisas tinham mudado. Os modos são outros, o Congresso é outro, Lula é o mesmo.
A frente ampla, que colocou na mesma frase Dirceu e Alckmin, Tebet e Boulos, Amoêdo e Ciro, durou aproximadamente meia-hora. Logo a seguir, as disputas por sinecuras, verbas, emendas, ministérios e comissões trataram de lembrar aos nativos que a extensão do patrimonialismo supera os 8.515.767,049 quilômetros quadrados do território.
Urnas apuradas, resultado confirmado, os próximos voltaram a ficar distantes, e o que era acordo virou acordão.
Resultado? Para todos os efeitos, há um presidente, mas não há uma presidência.
Talvez por isso, direta ou indiretamente por isso, a primeira-dama esteja fazendo as vezes de primeira-ministra.
Não sei se Janja tem ambições futuras, é provável que tenha, mas ambições presentes ela tem. Pede a palavra, assume a frente, chega primeiro, viaja antes, volta depois, ri, chora, cala, esperneia.
Enquanto isso, o povo espera. Educação? Saúde? Segurança? Como dizia o autor do Eclesiastes, há tempo para tudo – para governar e, principalmente, para não governar. Já estamos às vésperas de outro mandato, não estamos? Que horas são?
Aguardemos que o presidente encontre o ministro que cometeu indiscrições contra sua consorte, depois lidemos com os pormenores republicanos.
Prioridades, por favor.
O que seria de Lula se não fosse Janja para distrair a opinião pública, confundir os parlamentares, comover as redes sociais, mobilizar a agenda feminista, atiçar debates entre Gerson Camarotti e Demétrio Magnoli na Globo News?
Janja existe para que o governo não precise existir.
Mas Janja não é Rosângela Lula da Silva. Janja é um símbolo, um ímpeto, um íncubo.
De repente, me lembrei de que os filhos de Jair Bolsonaro cumpriram papel semelhante. Cizânia, barulho, tergiversação, enquanto milhares morriam. Flávio, Carlos, Eduardo e Renan foram Janja. E muitos de nós, muitas vezes, caímos na armadilha.
Prestamos atenção bem mais do que devíamos, sem perceber que eles, para Bolsonaro, ela, para Lula, são como a mão direita do mágico que nos distrai do que faz sua mão esquerda. Ou o contrário, a depender das preferências ideológicas. O truque é velho, mas funciona.
Por isso, já sabem. Eu já sei. Nas próximas eleições, esqueçam os candidatos. Pesquisem exaustivamente os cônjuges, filhos, parentes e contraparentes. Nosso futuro dependerá deles.
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Comentários (1)
Andre Luis Dos Santos
16.05.2025 19:16Excelente!