O problema da crise do Pix é o próprio governo Lula
Debate sobre quem, como e quando errou é mais uma parte da cortina de fumaça para esconder o óbvio: ninguém confia no governo

O recuo do governo Lula sobre o monitoramento do Pix abriu um debate inócuo e diversionista sobre qual teria sido o (pior) erro: publicar a instrução normativa da Receita Federal ou revogá-la.
Alguns debatedores se questionam como ninguém na Esplanada dos Ministérios adivinhou que a fiscalização das transações soaria mal, outros dizem que cancelar a norma foi um equívoco ainda maior, por demonstrar fraqueza e fortalecer a oposição.
“Acho que o governo deveria ter insistido, porque estava do lado da verdade. Recuar significa utilizar uma arma desproporcional para encerrar o debate”, disse o ministro dos Transportes, Renan Filho.
Como de costume, os aliados de Lula também apontam o dedo para a oposição, alardeando investigações, acusando o cometimento de crimes e defendendo até a instalação de uma CPI para investigar os opositores que ajudaram a derrubar o monitoramento do Pix.
O verdadeiro problema
Sob o risco de parecer repetitivo, é preciso dizer mais uma vez o que O Antagonista diz desde que os governistas começaram a se preocupar com a queda de popularidade de Lula e optaram por culpar a comunicação: o problema é o próprio governo.
Esse caso do monitoramento do Pix deixou isso mais claro do que nunca. Fiscalizar operações financeiras é praxe, para evitar sonegação e crimes, inclusive de agentes públicos. E é legítimo debater a tributação desse tipo de movimentações, desde que às claras.
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A instrução normativa da Receita Federal para monitorar o Pix soou maliciosa, contudo, porque entrou em vigor durante um governo que não tem confiança de grande parte da população para mexer com dinheiro.
Falta confiança porque o governo Lula é perdulário e precisa de recursos para bancar seu ímpeto gastador enquanto corrói as contas públicas.
Como antecipar?
Seria impossível antecipar o efeito da normativa da Receita, porque ela, em si, não tem nada de mais. E cancelá-la é apenas um detalhe na confusão em que o governo Lula se meteu por não conseguir sustentar a promessa de responsabilidade fiscal, na qual boa parte do mercado fingiu acreditar até a desastrosa apresentação do pacote de corte de gastos pelo ministro da fazenda, Fernando Haddad, em novembro.
A confusão do Pix escancarou o fato de que mesmo medidas protocolares e até mesmo corretas irão soar mal no governo Lula, e não como consequência de mentiras ou de ataques da oposição, mas por culpa da reputação de malandro que o governo construiu.
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Nem Pimenta, nem Haddad, nem Sidônio
É sintomático que tudo isso tenha ocorrido exatamente durante a passagem de bastão de Paulo Pimenta para Sidônio Palmeira (em destaque na foto) no comando da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República.
Por mais críticas que mereçam os ministros de Lula, e não são poucas, a culpa sobre esse caso específico não é de Pimenta, Haddad ou mesmo do novato Sidônio. O governo do petista teria de mudar sua própria essência para solucionar o verdadeiro problema.
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Comentários (1)
Luis Eduardo Rezende Caracik
18.01.2025 08:39Me desculpe Rodolfo, mas permita-me afirmar que você está enganado, e ainda por cima se posicionando politicamente e não jornalisticamente. Fora Deus em pessoa quem fizesse o anúncio das medidas, ainda assim um deputado oportunista e picareta como Nikolas Ferreira, teria feito o mesmo que fez, por uma razão muito simples, que todos os jornalistas estão omitindo: o fez por dinheiro. Que dinheiro? Quando a contagem de visualizações do vídeo estava em 100 milhões, já havia faturado mais de 200.000 dólares pela monetização do vídeo nas redes em que o colocou. Não sou Lulista e nem Petista, e não apoio este governo, assim como não apoiava o anterior. Mas o que estamos assistindo agora é pura falta de escrúpulos e de caráter, que está permeando a política e a sociedade, com as bençãos da maior parte da imprensa, que animadamente se junta ao vai da valsa. Afinal a imprensa também depende de audiência, não é?