O excelentíssimo Barroso está mais do que certo e eu posso provar
Eu concordo com o ministro. No Brasil, existem realmente duas categorias de pessoas: as que estão com ele e as que não estão com ele

O mundo do direito é um mundo ritualístico. Caso você não se acomode no assento designado, um júri popular convocado a julgar um homicídio poderá ser desfeito, os jurados deverão ir pra casa, o réu terá de esperar na prisão, a família da vítima esperará sentada, os contribuintes receberão a conta. Disposição geográfica de cadeiras importa.
O mundo do direito é um mundo decoroso. Se porventura você for testemunha em determinado caso e, inexperiente, ansioso ou distraído, não chamar vossa excelência de vossa excelência, receberá uma severa reprimenda, seu depoimento será desconsiderado e o advogado que se vire e conte outra. Pronomes de tratamento importam.
O mundo do direito é um mundo elegante. A despeito de sua origem ou de suas condições, de sua escolaridade ou das orientações que recebeu, você logo compreenderá que um trabalhador não deve cometer a ousadia de comparecer a uma audiência calçando chinelos, pois se trata de “um ato solene perante o poder judiciário”. Traje a rigor importa.
O mundo do direito é ritualístico, decoroso e elegante. Da toga pra fora.
Da toga pra dentro, juízes ignoram critérios e decidem conforme a própria consciência, promotores acusam baseados em ouvir-dizer, ministros suspeitam de tudo porque nunca se declaram suspeitos de nada, decanos organizam festinhas empresariais, magistrados soltam a voz em karaokês de interesse público.
O excelentíssimo ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, rebateu as críticas que tem recebido desde que foi visto exibindo suas cordas vocais em evento beneficente com o CEO de uma das empresas interessadas em casos julgados pelo tribunal que o excelentíssimo preside.
Com a indignação iluminista que só Barroso tem, dessa vez exibiu as cordas vocais pra dizer que “no Brasil existem, atualmente, duas grandes categorias de pessoas: as que fazem alguma coisa e as que têm razão. Portanto, a gente tem que continuar fazendo e deixar parado as que têm razão, que precisam vender jornal falando bobagem”.
Eu concordo com o excelentíssimo e subscrevo sua excelentíssima declaração – mas, se vossa excelência, que não me lerá e nem deveria perder o precioso tempo em me ler, me permitisse um aparte, gostaria de acrescentar outros requisitos que confirmam os primeiros, e vão além.
No Brasil, existem, atualmente, duas grandes categorias de pessoas. As que fazem tudo e as que não podem fazer nada. As que exigem rito, decoro e elegância, e aquelas das quais são exigidos rito, decoro e elegância. As que recebem vencimentos altíssimos e aquelas das quais são coletados os vencimentos altíssimos. As que ganham aposentadorias como punição e as que são punidas com mais trabalho. As que podem interpretar a Constituição em sentido lato e as que devem obedecer a Constituição em sentido estrito.
As que vestem togas e as que calçam chinelos.
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Comentários (10)
Maria Amelia Loureiro De Oliveira
29.05.2025 22:32Judiciário um bando de arrogante,
Celso Sampaio Chicolet
29.05.2025 08:34Muito BOM!
CELMIRA SARDENBERG
28.05.2025 22:44Excelente
Andre Luis Dos Santos
28.05.2025 17:52Excelente! Algum Senador vai tomar alguma atitude? Claro que não.
CUSTÓDIO PRÃNCIPE
28.05.2025 16:45Primoroso artigo.Parabéns!!!
Marcos Rezende
28.05.2025 16:39Muito Ben dito Ministro. O Brasil dos que FAZEM falcatruas e dos que nem tem possibilidade de FAZÊ-LAS, e ainda, paga a conta dos que FA,EM.
José Mancusi
28.05.2025 16:27Excelente artigo!!! Disse TUDO!!! Parabéns!!!
SERGIO BARROS DE ARAUJO
28.05.2025 16:10Perfeito Gustavo! Como disse a Leila, representa a indignação de grande parcela da população que não aceita mais os privilégios e falcatruas desta casta de deuses que estão acima da lei. A pergunta que não quer calar: existe solução institucional para este problema ?
Ita
28.05.2025 15:54Po**a!!!!! você foi fundo. Desculpem-me por assim expressar, é que eu calço chinelo.
Leila Sibele Pilger Glufke
28.05.2025 15:50Excelente texto! Reproduz o pensamento indignado da população que não pode se dar ao luxo de ser elegante como os magistrados, e no entanto paga o salário deles.