O discurso mofado de Dirceu

19.03.2025

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O Antagonista

O discurso mofado de Dirceu

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Rodolfo Borges
6 minutos de leitura 12.03.2025 11:05 comentários
Análise

O discurso mofado de Dirceu

Ex-ministro petista falou em combater o "fascismo" no discurso de aniversário, demonstrou medo de Tarcísio e repetiu a velha narrativa que não sustenta mais o PT

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Rodolfo Borges
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O discurso mofado de Dirceu
Foto: Reprodução/ Instagram

José Dirceu (ao centro na foto com o filho Zeca Dirceu) celebrou na noite de terça-feira, 11, seu aniversário de 79 anos, com uma festa cheia de autoridades em Brasília. E seu discurso em celebração aos “60 anos de luta” ajuda a entender como o PT conseguiu se distanciar até dos trabalhadores em nome dos quais foi criado.

“Agora está muito na moda dizer que o nosso povo é de direita, é conservador, e eu queria falar um pouco sobre isso”, disse o ex-ministro petista, que trabalha agora para voltar ao Congresso Nacional como deputado federal em 2026.

Foi assim que Dirceu introduziu sua versão da história recente do Brasil, que ele calcula em 120 anos. “A classe trabalhadora veio junto com o desenvolvimento capitalista brasileiro se formando e viveu a metade da vida dela em ditadura”, resumiu.

Só se salva o PT?

Na história contada por Dirceu, salvam-se apenas os governos petistas. Ele também celebrou a eleição de Getúlio Vargas pelos trabalhadores brasileiros, em 1950, logo após ter criticado a “ditadura protofascista” do Estado Novo.

Segundo o ex-ministro, após votar em Vargas, resistir ao golpe de 1961, apoiar as reformas de João Goulart, votar no PTB de 1946 a 1964 e, votar no MDB de 1974 a 1989, a classe trabalhadora “passou a votar não só no PT, mas numa frente política, muitas vezes de esquerda, outras vezes centro-esquerda e depois, a última, de frente ampla”.

“Só não governamos o Brasil de maneira ininterrupta de 2002 até hoje por causa do golpe de 2016 [impeachment de Dilma Rousseff] e da Lava Jato”, reclamou o petista, que não mencionou o esquema de mensalão, pelo qual foi condenado, em seu discurso.

“Eles”

Dirceu disse que “foi a classe trabalhadora que conquistou na Constituição de [19]88, a democracia, o Estado Nacional e o Estado de bem-estar social”, e acusou “eles” de “romper o pacto político democrático” com o impeachment e a Lava Jato, mas não apenas nesses momentos.

“Eles romperam e começaram a desmontar o pacto nacional nos governos Fernando Henrique, [Michel] Temer e [Fernando] Collor. E agora sonham com um Brasil de Trump, com um Brasil de Milei, para romper o pacto social. Nós somos herdeiros dessas lutas”, discursou.

O petista disse ainda que “os tambores da guerra estão batendo como na década de [19]20 e [19]30”.

“Governo sitiado”

“O fascismo e a extrema direita vai (sic) tomando o governo de vários países, porque a nossa soberania está ameaçada. Mais grave: a nossa soberania está ameaçada por brasileiro, na aliança do bolsonarismo com os Estados Unidos, pregar a traição nacional, a intervenção dos Estados Unidos, das big techs nos assuntos internos brasileiros”, seguiu.

“Quando se fala do governo do presidente Lula, estamos falando de um governo sitiado por uma conjuntura internacional que nos impõe, em primeiro lugar, aliança política com todos aqueles que defendem soberania, democracia e esse Estado de bem-estar social”.

Medo de Tarcísio

Dirceu também demonstrou medo em relação às perspectivas presidenciais do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos):

“Não tenhamos ilusões em relação aos objetivos do bolsonarismo. E o pior, setores da direita brasileira começam a dormir com o inimigo. E apresentam o Tarcísio como se fosse uma alternativa ao bolsonarismo, quando ele na verdade é o próprio bolsonarismo.”

2026

“Para vencer as eleições de [20]26, nós temos que governar agora”, defendeu o ex-ministro.

“E todos aqui sabem que nós governamos em minoria. Um parlamento onde legitimamente os partidos de direita têm 300 deputados, sem bolsonarismo, sem nós, e 50 senadores. Portanto, toda vez que nós formos analisar o governo do presidente Lula, nós temos que analisar a conjuntura internacional, essa situação do Brasil”, disse, defendendo apoio ao governo.

Dirceu disse que a agenda do terceiro governo de Lula tem como objetivo “sustentar o Estado de bem-estar social” e “conseguir manter o Brasil em democracia”, mas reconheceu que “o Brasil precisa de reformas”.

Unidade

“Todos nós falamos que o Brasil precisa de reforma, nós precisamos de uma maioria parlamentar. Então, talvez a tarefa tão ou mais importante de governar, é os nossos partidos começarem a buscar unidade entre eles. Não é apenas a federação entre o PT, o PCdoB e o PV, não. Nós precisamos do Psol e da Rede, nós precisamos do PDT e do PSB, nós precisamos estar todos juntos”, defendeu.

Segundo ele, “hoje não existe mais eleição nacional”. “O Elon Musk vai à Grã-Bretanha e diz para o primeiro-ministro do país: ‘Nós vamos te derrubar’. Ele vai à Alemanha e prega o apoio ao partido de extrema direita”, seguiu, dizendo que “agora de novo começa a se alimentar uma tentativa de trazer os Estados Unidos do seu governo Governo para disputa política no Brasil e para as eleições de 2026”.

Sistema político

Dirceu também defendeu uma mudança no sistema eleitoral, mencionando a alta taxa de reprovação do Congresso Nacional, e se arriscou em um diagnóstico sobre por que a economia brasileira não decola:

“Por que que o Brasil está nessa crise de permanente crescimento de voo de galinha? Por causa da concentração de renda, da estrutura tributária e do capital financeiro hegemônico aliado ao agrário. É isso que nós temos mudar.”

“Luta de classes”

O ex-ministro reconheceu que o PT precisa mudar, “entender qual é o mundo em que nós vivemos”, e mencionou os trabalhadores de aplicativo, com que o PT não consegue se conectar, mas apelou a velhos chavões e conceitos mofados ao dizer que “a classe trabalhadora está sendo disputada e parcela dela vai aderir no liberalismo econômico, ao conservadorismo, ao fundamentalismo religioso”. “Isso é formação de consciência social, é disputa e luta de classe”, completou.

Dirceu está certo no diagnóstico de que o PT precisa se atualizar, mas seu discurso deixou claro que isso não deve ocorrer sob seu comando — e nem sob a batuta daqueles que assistiram ao seu pronunciamento em meio aos gritos de “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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Comentários (7)

Amaury G Feitosa

13.03.2025 10:48

O multi criminoso ideólogo da DITADURA em claro curso aparece não por acaso quando desesperado o governo que não mais governa aposta da ditadura escancarada e poderemos não ter eleições com o país sob guerra civil quer vejo quase inevitável pois o país não será uma nova Venezuela sem reação isto só um tolo ou ignorante acreditaria, o pior é que golpe final ou contra golpe haverá dura guerra e contendores bem definidos a nação chorará sangue ... o Senado pode ainda evitar isto mas nadando em lama e lixo abandonou o país à própria sorte.


MARCOS

13.03.2025 10:16

OUTRO EX-PRESIDIÁRIO SEM NOÇÃO.


Andre Luis Dos Santos

12.03.2025 22:47

Que fofa a foto da Tchutchuquinha beijando o Papai mensaleiro. 🤣🤣🤣🤣 Impressionante a quantidade de asneiras que esse JD consegue dizer. PQP 🤬


Erico Mattos

12.03.2025 20:37

Nojo


Claudemir Silvestre

12.03.2025 19:53

Velhas e ultrapassadas ideias do século XIX sobre lutas de classes, facistas, socialismo …. Para alimentar a cabecinha daqueles que votam no PT 🤷🏻🤷🏻 Como que o país pode crescer com esta gente no poder ??? Não dá !!


JOSE ROBERTO CARRARA

12.03.2025 16:27

ja perguntei, quem pagou essa farra, o mensalão ou o petrolão? numa fala esse elemento que deveria estar preso tem razão, "nós temos que governar agora" porque não fizeram isso desde 2003,,,,,


Angelo Sanchez

12.03.2025 15:28

Quando um corrupto fala, é porque alguém permitiu esta barbaridade, e este alguém é conhecido como STF. A nossa democracia já acabou e está impregnada de imbecis de capa preta.


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