Malandro é o governo Lula
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Malandro é o governo Lula

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Rodolfo Borges
6 minutos de leitura 09.12.2024 07:20 comentários
Análise

Malandro é o governo Lula

Ao tentar justificar corte no BPC, petista disse que "ninguém pode ser malandro a ponto de receber um benefício [a] que não tem direito", mas quem está tentando truque é seu governo

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Rodolfo Borges
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Malandro é o governo Lula
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ao tentar explicar os cortes em benefícios sociais do pacote fiscal enviado ao Congresso Nacional, Lula (foto) disse que “ninguém pode ser malandro a ponto de receber um benefício [a] que não tem direito”.

Ele falava do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que seu próprio partido tenta manter ileso nas discussões sobre o pacote de corte de gastos apresentado de forma atrapalhada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Lula também disse o seguinte na mesma ocasião: “Estamos num processo político de fazer uma certa contenção de despesas para poder caber no Orçamento, senão, chega no fim do ano, o Orçamento não cabe”.

O Orçamento não cabe

O problema é que o governo Lula não está levando a sério o tal processo político de fazer uma certa contenção de despesas. É tudo um grande encenação, como têm deixado claro economistas como Marcos Lisboa, que foi secretário da Fazenda do primeiro governo Lula, e Marcos Mendes, pesquisador do Insper.

Lisboa desmentiu que o mercado tenha “apostado” contra Lula, como o petista gosta de dizer, e Mendes desse, em entrevista ao Estadão, que o pacote apresentado por Haddad, “não reduz despesas, apenas abre um pouco de espaço para despesas discricionárias nos próximos anos”.

Mendes deu o resumo da ópera:

“O pior impacto desse pacote é que ficou claro que não há suporte político para uma política fiscal consistente dentro do poder Executivo. Era a última janela deste mandato para o governo fazer uma sinalização em termos de controle fiscal. Após mais de um mês de conversas internas dentro do governo, trouxeram um pacote muito insatisfatório, que deixou de fora inclusive medidas que estavam sendo cogitadas, como, por exemplo, a reformulação do seguro-desemprego. Isso me traz a preocupação de perda de ancoragem da política fiscal, e que joga nas costas do Congresso e do Banco Central toda a responsabilidade pela estabilidade macroeconômica.”

Mentalidade petista

O pesquisador do Insper também traduziu a essência da economia petista, cujo mentalidade levou à crise e consequente queda do governo Dilma Rousseff (que o PT chama de golpe até hoje):

“Eles acreditam que a expansão fiscal gera mais PIB e que o crescimento econômico, por si só, paga o aumento do déficit, por gerar tanta arrecadação adicional que cobre o déficit. Sabemos pela experiência histórica que não é assim que funciona. O impacto sobre o PIB é passageiro e lá na frente você tem uma deterioração da situação fiscal e da relação dívida/PIB.”

Que arcabouço?

Mendes lembrou ainda que a PEC da Transição, aprovada no fim do governo Jair Bolsonaro, ampliou consideravelmente as possibilidades de gasto por Lula, que mesmo assim não consegue respeitar limites:

“O cumprimento do arcabouço fiscal se tornou irrelevante. Logo que o arcabouço foi lançado, eu escrevi com outros economistas que o arcabouço não era suficiente para estabilizar a dívida pública, e que o arcabouço tem uma contradição interna: tenta controlar a despesa, mas ao mesmo tempo estimula o crescimento de determinadas despesas, em especial aquelas vinculadas à receita, como os mínimos de saúde e educação. Isso tem se mostrado concreto. Mesmo com o arcabouço não sendo suficiente para controlar a dívida pública, o governo está tendo dificuldade em cumpri-lo e já lançou mão de uma série de artifícios para facilitar esse cumprimento.”

Questionado sobre quem poderá nos defender, Mendes, que projeta um crescimento da dívida pública de ao menos 14% ao longo do terceiro mandato de Lula, cita o Congresso Nacional como possibilidade, mas sem muita confiança.

Congresso

O drama para os congressistas será ter de arcar com as maldades que o governo Lula não tem qualquer disposição para fazer.

O Palácio do Planalto tentou esconder o plano de cortes atrás de uma promessa de redução de impostos, o que fez o dólar disparar e bater cinco recordes de fechamento, três deles acima de 6 reais.

O roteiro posto é o seguinte: caso adequem os cortes do governo à realidade necessária, deputados e senadores sairão como vilões para aqueles que perderem benefícios, enquanto os petistas do governo posariam de mocinhos e ainda se beneficiariam de uma economia nos trilhos.

Que parlamentar toparia algo assim?

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, deixou o plano claro em seminário sobre a “realidade brasileira” promovido pelo PT, no qual convocou os aliados a fazer disputa da narrativa, ocupando cada rádio desse país, cada blog, cada conta de Instagram, Facebook, TikTok, seja o que for”.

Narrativa

Enquanto planta o caos econômico, o PT celebra o crescimento da economia, cantado em prosa e verso pelo IBGE de Márcio Pochmann e construído às custas de incentivos cuja conta só chegará no futuro.

A resolução do Diretório Nacional do partido, publicada no sábado, 7, diz que “o povo trabalhador colhe os frutos de políticas públicas voltadas ao crescimento soberano do país, com ênfase na reindustrialização e na transição ecológica, gerando aumento do emprego e da renda”.

Pior: a nota dos petistas reclama da reforma trabalhista feita no governo de Michel Temer, que, ao diminuir a insegurança jurídica do mercado de trabalho, proporcionou o aumento no número de postos de trabalho hoje celebrado pelo próprio PT.

“Entre 2016 e 2022, sob Temer e Bolsonaro, o mercado de trabalho brasileiro foi devastado por políticas que desmantelaram garantias e direitos básicos e intensificaram as desigualdades. A reforma trabalhista de 2017, apresentada por Temer como uma solução para a criação de empregos, fracassou, resultando em um aumento do desemprego para 11,7% ao final de seu governo”, diz a narrativa petista.

Sem conseguir entregar responsabilidade fiscal, resta ao PT manipular a realidade por meio do discurso.

Quando der tudo errado, haverá sempre o mercado financeiro, a oposição, a “extrema-direita”, Roberto Campos Neto ou qualquer outro bode expiatório no qual jogar a culpa pela própria irresponsabilidade.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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