Júlio Lancellotti volta a gerar polêmica ao repetir mito anticatólico

08.11.2025

logo-crusoe-new
O Antagonista

Júlio Lancellotti volta a gerar polêmica ao repetir mito anticatólico

avatar
Alexandre Borges
7 minutos de leitura 09.10.2025 08:06 comentários
Análise

Júlio Lancellotti volta a gerar polêmica ao repetir mito anticatólico

Declarações do padre reforçam sua trajetória de confronto com a Igreja e expõem um velho mito criado para atacar o catolicismo

avatar
Alexandre Borges
7 minutos de leitura 09.10.2025 08:06 comentários 9
Júlio Lancellotti volta a gerar polêmica ao repetir mito anticatólico
Foto: Reprodução/X Padre Júlio Lancellotti

O padre Júlio Lancellotti se envolveu em mais uma polêmica ao afirmar que “Jesus não era católico” e que “o catolicismo foi inventado depois de Constantino”. A fala gerou revolta entre católicos e teólogos por repetir uma falsidade histórica anticatólica.

Lancellotti tem um longo histórico de polêmicas, denúncias e conflitos com a própria Igreja. Ao adotar a narrativa, ele repete um mito criado por inimigos do catolicismo para atacar sua autoridade e deslegitimar a Igreja.

O Código de Direito Canônico define heresia como: “negação pertinaz, depois de recebido o batismo, de alguma verdade que deve ser crida com fé divina e católica, ou dúvida pertinaz a respeito dela”. Se negar a própria história da igreja não é heresia, não sei o que é.

A Igreja Católica foi fundada por Jesus Cristo e é incrível isso ainda ser polêmico.

O Evangelho é claro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Em João 21, Jesus entrega a Pedro o cuidado do rebanho. Em Lucas 22, Cristo ora para que sua fé não desfaleça e para que confirme os irmãos. A autoridade de Pedro e de seus sucessores nasce diretamente de Cristo.

Séculos antes de Constantino, a Igreja já existia. São Clemente Romano escreveu aos coríntios no século I, exercendo autoridade papal. Santo Inácio de Antioquia, no ano 108, já chamava a comunidade cristã de “Igreja Católica”. Santo Irineu de Lião, no século II, dizia que todas as igrejas deveriam concordar com a Igreja de Roma, fundada por Pedro e Paulo.

Antes do nascimento de Constantino, a Igreja já havia tido mais de trinta papas, celebrava os sacramentos, venerava os mártires e professava a mesma fé católica de hoje. O Édito de Milão, de 313, apenas concedeu liberdade religiosa. Constantino não criou a Igreja; ele apenas reconheceu a que já existia há séculos.

A teologia católica também confirma isso com base no Antigo Testamento. Em Isaías 22, o mordomo Eliaquim recebe as chaves da casa de Davi, símbolo de autoridade real. Em Mateus 16, Jesus entrega a Pedro as chaves do Reino dos Céus. É uma referência evidente. Pedro é o vigário de Cristo.

Lancellotti repete uma mentira que nasceu na Idade Média.

No século XVI, o movimento que nascia com Lutero precisava justificar o rompimento com Roma e começou a espalhar a tese de que a Igreja teria sido criada por Constantino. A ideia foi repetida por Henrique VIII, usado como justificativa para romper com o Papa, tomar o controle religioso da Inglaterra e confiscar bens eclesiásticos.

Nos séculos seguintes, o Iluminismo e a propaganda anticatólica reforçaram essa farsa.

Filósofos como Voltaire atacaram a Igreja como inimiga da razão. No século XIX, o pastor escocês Alexander Hislop espalhou o mito em seu livro The Two Babylons, que inventava falsos paralelos entre o catolicismo e religiões pagãs. Sua obra foi desmentida até por outros autores protestantes, mas o dano já estava feito.

A repetição moderna do mito serve a um objetivo claro: minar a autoridade moral da Igreja e separar a fé da vida pública. É uma estratégia política antiga, usada por reis, governos e ideólogos para afastar o papado de qualquer influência moral sobre o poder temporal.

As evidências históricas desmontam totalmente o embuste.

O termo “Igreja Católica” aparece por escrito duzentos anos antes de Constantino, o que mostra que ele é ainda mais antigo. Os Pais da Igreja, de Clemente a Agostinho, documentam a sucessão apostólica e a unidade doutrinal católica. O cristianismo já nasceu católico.

O erro de Júlio Lancellotti é mais grave porque vem de um sacerdote ordenado pela própria Igreja que ele tenta deslegitimar.

Ele deve sua batina e sua autoridade ao catolicismo que agora descreve como “invenção”. Repetir um mito herético é trair a própria instituição que lhe conferiu o sacerdócio.

Lancellotti já acumula décadas de controvérsias.

Foi afastado por Dom Paulo Evaristo Arns da Pastoral do Menor nos anos 1990, tem histórico de confrontos com bispos, e é alvo de denúncias e acusações graves. Sua trajetória é marcada pelo ativismo político de extrema-esquerda e por choques constantes com a hierarquia eclesial.

Mesmo assim, conta com forte blindagem midiática e apoio de grupos políticos de esquerda, que usam seu poder para proteger um militante infiltrado na mais importante instituição ocidental da história. Essa proteção tenta constranger qualquer crítica ao ativista problemático que ainda é padre.

Um dos testemunhos mais consistentes contra o mito anticatólico repetido por Lancellotti vem de Eduardo Faria, ex-pastor presbiteriano que se converteu ao catolicismo após 22 anos de ministério protestante.

Natural de Juiz de Fora (MG), Faria conta que passou a estudar as Escrituras e os Padres da Igreja e descobriu que a Igreja Católica de hoje é a mesma Igreja fundada por Jesus Cristo.

A volta para casa

Há diversos casos de protestantes que, ao tentarem refutar o catolicismo, acabam se convertendo ou “voltando para casa”.

Um dos nomes conhecido do Brasil é do ex-pastor presbiteriano e influenciador católico Eduardo Faria (veja o vídeo, ao final).

Em seus vídeos, cursos e palestras, Faria explica que a mentira anticatólica que envolve Constantino surgiu na obra Centúrias de Magdeburgo, escrita por teólogos luteranos no século XVI para justificar o rompimento com Roma.

Segundo esses autores, Constantino teria “paganizado o cristianismo”. Foi o nascimento da tese de que o imperador teria fundado a Igreja.

Faria demonstra que as doutrinas rejeitadas pelos protestantes, como o primado de Roma, a veneração dos santos e a crença na presença real de Cristo na Eucaristia, já existiam antes de Constantino.

Ele cita as obras de homens que eram discípulos diretos dos apóstolos e considerados pais da igreja como Santo Inácio de Antioquia, São Justino Mártir e Santo Irineu.

O ex-pastor também expõe uma contradição importante: “Muitos dogmas que os protestantes aceitam foram definidos depois de Constantino, como os da Trindade e da natureza de Cristo. Até o cânon bíblico foi definido no século IV pela própria Igreja Católica.”

Faria conclui que a tese da “paganização” é uma invenção política e teológica sem base nos fatos. Ele defende que a Igreja do século XVI precisava de reforma, não de ruptura, e cita santos como Teresa d’Ávila e Inácio de Loyola como exemplos de verdadeiros reformadores.

“A Igreja Católica de hoje é exatamente a Igreja de todos os séculos, de todos os milênios. A Igreja que Jesus Cristo fundou”, explicou.

O caso atual de Júlio Lancellotti não é uma interna entre padres e apologistas. É a linha que divide os fatos e mentiras.

Um vídeo do padre Gabriel Vila Verde (veja ao final), publicado nas últimas horas, cumpre um papel didático importante ao reagir às falas de Lancellotti e explicar, com base nas Escrituras e na história, que a Igreja Católica não foi criada por Constantino.

A polêmica expõe mais uma vez o abismo entre a fé católica e o discurso político travestido de pastoral, feito por anticatólicos infiltrados na igreja e patrocinados por seus inimigos.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

O coquetel ‘flopado’ de Janja na COP30

Visualizar notícia
2

Lindbergh esperneia sobre escolha por Derrite para relatar PL Antifacção

Visualizar notícia
3

Kim a Marçal: “Para mudar o Brasil, precisa ser político de palavra”

Visualizar notícia
4

“Parabéns pela certeira indicação, Tarcisão!”, diz Flávio Bolsonaro

Visualizar notícia
5

Cardápio da COP30: o céu é o limite

Visualizar notícia
6

“O Kim quer um Pix. Eu quero um Brasil diferente”, diz Pablo Marçal

Visualizar notícia
7

Crusoé: Noruega rasga dinheiro com o Brasil na COP30

Visualizar notícia
8

Crusoé: “COP30 é um picadeiro de políticos, ongueiros e multinacionais”, diz ex-secretário

Visualizar notícia
9

Wagner do Rosário se emociona ao lembrar de Bolsonaro em posse no TCE-SP

Visualizar notícia
10

Eduardo compartilha postagem que acusa Nikolas de querer “se livrar” de Bolsonaro

Visualizar notícia
1

Crusoé: A revolta dos ‘patriotas’

Visualizar notícia
2

Kim a Marçal: "Para mudar o Brasil, precisa ser político de palavra"

Visualizar notícia
3

O coquetel 'flopado' de Janja na COP30

Visualizar notícia
4

Governo Lula quer combater o “racismo ambiental”

Visualizar notícia
5

Aldo Rebelo denuncia "caixa preta" no Ministério do Meio Ambiente

Visualizar notícia
6

Por unanimidade, Primeira Turma do STF rejeita recurso de Bolsonaro na trama golpista

Visualizar notícia
7

Cardápio da COP30: o céu é o limite

Visualizar notícia
8

"Nossa família está mais unida do que nunca", diz Jair Renan

Visualizar notícia
9

Crusoé: Não é hora de Lula abraçar Maduro

Visualizar notícia
10

Crusoé: Desserviço público

Visualizar notícia
1

Horóscopo do dia: previsão para os 12 signos em 08/11/2025

Visualizar notícia
2

O coquetel ‘flopado’ de Janja na COP30

Visualizar notícia
3

Duda Salabert x Gilson Marques: a treta do sapatênis

Visualizar notícia
4

Cardápio da COP30: o céu é o limite

Visualizar notícia
5

Como os vieses cognitivos afetam as análises políticas

Visualizar notícia
6

“Nossa família está mais unida do que nunca”, diz Jair Renan

Visualizar notícia
7

O feminismo relativo de Janja

Visualizar notícia
8

Defesa Civil de SP emite alerta para passagem de ciclone extratropical

Visualizar notícia
9

Trump aprendeu economia com o Sarney?

Visualizar notícia
10

Wagner do Rosário se emociona ao lembrar de Bolsonaro em posse no TCE-SP

Visualizar notícia

< Notícia Anterior

Arthur Brooks, especialista em felicidade de Harvard: "As pessoas mais felizes nunca param de aprender por pura curiosidade"

09.10.2025 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Como usar o celular para identificar notas falsas em segundos

09.10.2025 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Alexandre Borges

Analista Político em O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (9)

HUMBERTO CARLOS PEREIRA LEITE

10.10.2025 02:44

É mentira que o Cristianismo seja monopólio da igreja católica romana. Este confronto sobre a titularidade da fé cristã, fruto da insurgência de alguns católicos criados sem base teológica, já gerou vários genocídios, e o massacre dos huguenotes, na França, não foi o único. É falsa a suposta clareza de que Pedro apóstolo tenha sido a pedra fundamental da igreja Cristã, mas, sim, a declaração precedente de Pedro, no diálogo como Cristo, sobre o senhorio de Cristo, como Filho do Deus vivo. Só quem tem conhecimento insipiente e faccioso sobre esse assunto poderia dar credibilidade à pessoa que escreve essa matéria jornalística; matéria que se vale deste ou aquele manual de vertente católica, o que indica que a base bibliográfica dele não é digna da tal credibilidade que avoca, pois evidentemente manuais de doutrinação católica não é fonte literária dotada de suficiente isenção. Vou acompanhar aqui este jornalística extremista seguir escrevendo bobagens, e se isso continuar eu vou deixar de assinar o Antagonista, pois acreditava que o veículo de informação fosse fruto de uma cultura Cristã tolerante, inclusive a críticas de Lancellotti, ou qualquer um que o faça respeitosamente.


Mariade

09.10.2025 21:31

Ás vezes tenho impressão de que ele é forçado, por alguma razão ultra superior a se comportar de maneira herética. tb não entendo por que a arquidiocese o protege tanto. Há milhares de religiosos ou leigos que fariam o seu trabalho, talvez muito melhor do que ele.


Marcelo

09.10.2025 16:30

Se ele quer seguir na politica, sai da Igreja e funda uma, como todos os protestantes fizeram. Absurdo ele continuar como Padre, se ele tem várias acusações e não reconhece a nossa religião católica.


Annie

09.10.2025 13:40

O que falta pra excomungar esse padre de meia tigela


Jorge Irineu Hosang

09.10.2025 11:03

Sugiro o autor rever seu texto. Martin Luther, no texto chamado de Martinho Lutero, era a favor da Reforma da Igreja e, depois de pregar suas 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg, o que deu início a Reforma Protestante. Martin Luther jamais disse que a Igreja Católica, chamada a Igreja de Cristo veio de Constantino, isso é outro factoide, o que ele disse sim e protestava contra, era o fato de que na época a Igreja havia se afastado da verdadeira Igreja de Cristo, com a Indulgência (venda de cadeiras no céu, comercializando o perdão, que segundo ele só poderia ser perdoado por Cristo), a Autoridade Papal e a Corrupção na Igreja, as Missas/Cultos e escrituras em Latim (o fato mais contraditório para a alegação do autor, porque Latim, era o idioma de Constantino), e os excessos praticados pela Igreja. Reconheço que o Padre Júlio Lancellotti é um falso Padre devidamente investido pela Igreja Católica que o deve conter ou então o excomungar, pois não é um digno representante de Deus. Mas o autor ao explicar as falsas afirmações que o Padre tem proferido usa de um argumento inverídico que produz exatamente o mesmo tipo de confusão que o dito Padre. Afirmações que dão a Constantino a autoria da Fundação da Igreja Católica vem do processo de fragmentação que a Igreja sofreu nos anos posteriores, bem depois, portanto, do Protestantismo Luterano, que justificavam sua existência, tentando minimizar a importância da Igreja Católica e uma das âncoras de argumentação sempre foi o de que o Clero só pregava em Latim, o idioma de Constantino. Jamais os Luteranos questionaram esses pontos. E se alguém duvidar, basta ir a uma Igreja da IECLB para conferir o que digo.


JOSE ROBERTO CARRARA

09.10.2025 09:47

lógico que tem toda liberdade de se expressar, mas o fato de estar indo contra o que deve ter estudado a vida toda, podemos dizer que esta praticando herezia, é um padre extremamente de esquerda, e que no sermão prega a não anistia para os envolvidos no 8/1 e não estou falando de Bolsonaro não, falo dos muitos que só estavam lá para protestar, mostra que não tem empatia nenhuma, concordo: já era para o vaticano ter excomungado esse infeliz...


Fabio B

09.10.2025 09:44

Antes fosse só toda a militância política, o pior são os casos de p***** que sempre orbitam essa figura demoníaca.


Alexandre Falcão

09.10.2025 09:35

O artigo é de uma lucidez teológica e histórica que deverá fazer o padre Lancellotti, no mínimo, pensar em novos argumentos. A impressão é que ele está buscando holofote.


Marcia Elizabeth Brunetti

09.10.2025 08:17

Ele deve ser mesmo muito bem revestido pelo manto da quadrilha da Esquerda. Já era para o Vaticano ter excomungado esse infeliz.


Torne-se um assinante para comentar

Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.