É assim que Gleisi pretende convencer o Congresso?
Entrevista da ministra indica que o governo Lula prefere estar certo (mesmo estando errado) do que alcançar acordos com seus supostos aliados

Ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (ao centro na foto) deu uma longa entrevista ao Valor, que ilustra a dificuldade do governo Lula de se entender com o Congresso Nacional.
A Câmara dos Deputados vota nesta segunda-feira, 15, o pedido de urgência para derrubar o decreto que aumentou alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). É uma reação (oportunista, não sejamos ingênuos) à falta de um plano de corte de gastos, que o governo não apenas não apresentou, como tenta empurrar para o Congresso.
“Eu vejo que o presidente [da Câmara, Hugo] Motta sofre muita pressão, não só dos parlamentares, mas também de setores [da economia]. Obviamente, ele deu vazão a essas outras vozes que acabaram pressionando por uma posição. Acho que chegaremos a um bom termo”, disse a ministra petista, que afirma confiar na manutenção do decreto, apesar de as lideranças da Câmara indicarem caminho contrário.
“Bate aqui e bate lá”
E como Gleisi pretende convencer os deputados? Com uma postura passivo-agressiva e em tom bélico. Questionada sobre a possibilidade de o governo apelar mais uma vez ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o Congresso derrube o decreto do IOF, a ministra disse o seguinte:
“Eu espero que isso não aconteça, porque seria muito ruim para o Brasil. E o Congresso tem responsabilidade com este país e com o arcabouço fiscal que ele também aprovou. Se acontecer isso, em última instância, nós vamos aumentar o contingenciamento e o bloqueio [do Orçamento]. Isso seria ruim também para o Congresso com as emendas, que são igualmente submetidas a bloqueio e contingenciamento.”
As emendas são, de fato, o pano de fundo dessa questão, principalmente desde que o ministro do STF Flávio Dino resolveu mediar a questão, pendendo para o governo Lula, na visão dos congressistas. Mas não é ameaçando com ainda menos emendas que Gleisi deve convencer seus supostos aliados.
A ministra voltou ao tom belicoso ao responder a pergunta sobre o tamanho do contingenciamento necessário caso o decreto do IOF venha a ser derrubado: “Eles [congressistas] já estão impactados com o corte que foi feito. O Congresso aprovou essas regras, então bate aqui e bate lá”.
“Ninguém quer pôr o dedo na castanha quente”
Gleisi ainda deu uma cutucada no União-Progressistas, que cobrou cortes de gastos do governo publicamente na semana passada, ao dizer que não enxerga alguma medida de corte de gastos “mais madura”:
“Ninguém quer votar medida impopular. Da esquerda à direita. Ninguém quer pôr o dedo na castanha quente. Eu acho tão bonito falar que tem que ter medidas de corte, eu até vi a entrevista do pessoal do União Brasil com o PP. Apresente as medidas de corte. Já vem com a assinatura de toda a bancada para ver se dá jeito de passar. Porque essa é a realidade que enfrentamos. Não adianta tapar o sol com a peneira.”
Por mais que o Congresso tenha sua parcela de responsabilidade pela gastança, contudo, quem tem a prerrogativa e a obrigação de apresentar medidas de corte é o governo Lula, responsável último pelo Orçamento. Se alguém precisa colocar a mão na “castanha quente”, esse alguém é o presidente da República, e não uma bancada de deputados.
A entrevista publicada nesta segunda-feira indica que Gleisi e o governo que ela representa preferem estar certos (mesmo estando errados) do que alcançar acordos, o que reforça a impressão de que os governistas não estão mais interessados em governar, mas em preparar a reeleição de Lula ou de quem ele apontar como sucessor, sempre às custas do país.
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Comentários (2)
José Reinaldo Lisboa Dias
16.06.2025 13:05"...vota nesta segunda-feira, 15, ..." Hoje é 16.
Um_velho_na_janela
16.06.2025 12:09É tudo poeira, na verdade trata-se apenas de negociata e chantagem.