Caiado desencabrestado
Ainda que não venha a conseguir viabilizar sua candidatura presidencial, o governador de Goiás já desempenhou seu papel na eleição de 2026

Ainda que não venha a conseguir viabilizar sua candidatura presidencial — e esse é o cenário mais provável —, Ronaldo Caiado (União, foto) já desempenhou, nesta semana, seu papel na eleição de 2026.
O governador de Goiás é praticamente desconhecido no país, como ele mesmo reconheceu no discurso em que lançou sua pré-candidatura em Salvador, e ainda precisa convencer o próprio partido a embarcar na empreitada presidencial, mas seu aceno eleitoral tem um significado muito maior para o país.
“Por que o Caiado está querendo ser presidente? Em primeiro lugar, porque o Caiado, desde que nasceu, é desencabrestado. Não sou candidato de colete, nem candidato de barra de saia de ninguém não. Eu sou candidato e vou para o povo, vou debater. Quando ninguém tinha coragem de debater direito de propriedade, era o Caiado lutando com 36 anos de idade neste Brasil”, discursou o governador.
Degradação
A mensagem foi para Jair Bolsonaro, mas serve para a direita brasileira e para o pais de uma forma geral. Grande parte da esquerda nacional se degradou — junto com instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) — para salvar Lula das condenações na Operação Lava jato. E grande parte da direita nacional mostra disposição para fazer o mesmo por Bolsonaro.
É compreensível o incômodo: se um foi reabilitado, por que o outro não pode ser? Mas há uma distinção na forma como o processo de Lula foi feito e como o de Bolsonaro vem sendo tentado: o petista serviu de escudo para todo o mundo político contra a Lava Jato, e não apenas para a esquerda petista.
Do ponto de vista prático e estratégico, a pergunta que os aliados de Bolsonaro precisam se fazer é: o que seus adversários ganharão com a anistia ao ex-presidente? Hoje, o único valor de Bolsonaro para a esquerda brasileira é servir de fantasma, algo mais assustador do que Lula — e é isso que pode acabar lhe rendendo algum fruto.
Prioridades
A oposição ao governo Lula elegeu como sua prioridade para este ano a aprovação de uma anistia para os condenados pelo 8 de janeiro, na perspectiva de que Bolsonaro venha a ser beneficiado de alguma forma. Mas o país está mais preocupado com inflação e segurança pública.
Caiado, naturalmente, abordou esses dois assuntos ao lançar sua pré-candidatura. E destacou também que é “um homem que tem 40 anos na vida pública” e que não há nada que o desabone.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás o condenou por abuso de poder político na eleição de 2022 — caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a palavra final sobre o processo que pode lhe impor inelegibilidade por oito anos —, mas é possível ler em sua declaração outro recado sobre Bolsonaro, que chegou à presidência com um passivo tamanho família.
PFL
Caiado só pode se dizer “desencabrestado” em relação a Bolsonaro porque, ao contrário de outros governadores de direita cotados para disputar a presidência, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Jr. (PSD), existia politicamente antes de Bolsonaro.
Ele não está amarrado pelo discurso da “traição”. que os bolsonaristas já usaram contra tantos aliados que ousaram discordar dos rumos que o governo do ex-presidente tomou.
O governador de Goiás, que foi candidato à presidência da República em 1989, fez questão, inclusive, de destacar, na sexta-feira, 4, que quem abonou sua ficha de deputado federal pelo PFL, um dos partidos que deu origem ao atual União Brasil, foi o falecido Antônio Carlos Magalhães, avô de ACM Neto.
O papel de Bolsonaro
Bolsonaro desempenhou um papel determinante para a direita brasileira nos últimos anos, por tratar, com sinal trocado, de assuntos se interesse nacional de maneira tão vulgar quanto a esquerda lulista vinha tratando.
O fato de não se constranger ao ser chamado de nazista — como fizeram todos os adversários do PT nas últimas décadas — na campanha de 2018 marcou uma diferença determinante para sua vitória naquele ano. Bolsonaro era imune a esse jogo baixo.
Hoje, os lulistas o tratam como a origem de todos os problemas, mas Bolsonaro foi uma reação a artimanhas eleitorais da esquerda. Isso obviamente tem algum valor, só que a direita nacional precisa botar na balança o custo que esse capital político cobra atualmente.
Direita desencabrestada
Bolsonaro apostou em se rodear de militares no governo, e eles acabaram dando razão a quem sempre disse que militar não deve participar da política. Serão julgados por tentar fazer algo que parte de seus eleitores cobrou publicamente por meses — a partir de um discurso de intervenção militar alimentado pelo ex-presidente.
Ao decidir não esperar por Bolsonaro, Caiado se apresentou como alternativa para a porção do país que acredita no valor da responsabilidade fiscal e clama por ações mais efetivas e menos românticas no combate à criminalidade. E sem precisar reduzir a rigidez da Lei da Ficha Limpa ou mudar a definição de golpe de Estado no Código Penal.
É sob essa perspectiva que a direita brasileira terá de fazer suas escolhas para enfrentar em 2026 um presidente para o qual apontar o dedo para os adversários é o único argumento que restou.
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Comentários (3)
Amaury G Feitosa
06.04.2025 10:58É chegada a hora de nos livrarmos das ideologias assassinas de direita x esquerda que em cinquenta anos se esmera em destruir um país rico em tudo, assim Ronaldo Caiado na hora certa lança sua candidatura que seguramente com o fatal erro da ditadura impedir Bolsonaro único que poderiam vencer em dura disputa certamente unirá a nação e livrará o país desta escória insana e criminosa ... mãe Diná psicografou e informa aí está o presidente que redimirá a e reerguerá nação ... força Caiadão !!!
Paulo CEzar Da Silva Pontes
05.04.2025 19:03Discordo que o único valor de Bolsonaro para a esquerda brasileira é servir de fantasma. A esquerda quer o Bozo como adversário em 2026, pois é alguém cuja rejeição é tão grande quanto a aprovação. Alem disso, todos os outros nomes da direita, além de terem rejeição baixa, possuem alto potencial de crescimento por serem desconhecidos no nomento atual, O Bozo perdeu 2022 pra ele mesmo, se fosse um pouco comportado no segundo turno, ele levava, pois perdeu os eleitores q escolheram o que achavam “menos” ruim.
Fabio B
05.04.2025 13:48A dita direita não tem pauta concreta, nem projeto de país. Ficam presos no bolsonarismo, nessa sanha de querer livrar seu líder adorado dos crimes cometidos. Fica difícil, pois o brasileiro mesmo está é preocupado com a violência e impunidade do crime organizado, com a inflação que está descontrolando e a perda do seu poder de compra. Dane-se Bolsonaro! Dane-se esses maluquinhos golpistas, eles que se lasquem. Largaram família de forma irresponsável para brincar de pedir golpe de estado. Aguentem a pica! Essa gente merece se estrepar, pois se o desejo deles fosse atendido, estaríamos numa ditadura de verdade, com uma família de corruptos roubando e matando qualquer voz contrária.