Bolsolulismo, lulotrumpismo e os vigaristas da retórica
O diabo é que centenas de milhões de pessoas, lá e aqui, não apenas acreditam nestes vigaristas intelectuais como passam a defendê-los

Raros os políticos sem carisma e ótima oratória, o que não significa qualidade ou virtude, mas apenas capacidade de persuasão. Mesmo os mais acanhados, em alguma medida, contam com uma ou outra destas características. Quanto não, o fracasso é praticamente certo, sendo remediado apenas por um padrinho fora de série. Querem exemplos?
Celso Pitta (1946-2009), prefeito de São Paulo entre 1997 e 2001, desconhecido e quase tão “picolé de chuchu” quando Geraldo Alckmin (falarei dele a seguir), só foi eleito – e conhecido, portanto – porque Paulo Maluf assim o quis: “Votem no Pitta, e se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim”.
Com popularidade na estratosfera, Maluf elegeu um dos piores prefeitos da capital paulista e, como não poderia ser diferente – diga-me com quem andas -, acabou envolvido em escândalos bilionários (em valores atuais) de corrupção: Av. Águas Espraiadas, Máfia dos Fiscais, desvios no PAS, coleta de lixo, Banestado…
Bajulador oficial
Talvez o caso mais emblemático de falta de carisma e oratória, agravado por panes mentais e ideias catastroficamente erradas sobre economia, de político – neste caso, política – eleita por um padrinho, seja a ex-presidente Dilma Rousseff, nossa eterna estoquista de vento, que gostava de saudar a mandioca e fazer contas matemáticas de cabeça.
Já um brilhante gestor, mas que dava sono em adolescente turbinado por enérgico em festa de música eletrônica, é Henrique Meirelles. Além do próprio, de seus familiares e amigos próximos, eu devo ter sido o único a lhe conferir o voto em 2018. Votasse o brasileiro em pessoas, e não em personagens, e estaríamos muito melhor.
Encerro essa pequena lista, que poderia se estender por páginas, com o atual vice-presidente Geraldo Alckmin, bajulador oficial de Lula e apelidado, não sem alguma razão, de “picolé de chuchu”. Em seu favor, o mérito de falar muito bem, a despeito da preguiça que sua imagem e falta de energia transmitem. Mas vamos ao que importa. Já divaguei demais.
Bolsolulismo e lulopetismo
O bolsolulismo surgiu a partir da infinidade de atitudes, falas, práticas – o tal modus operandi – comuns a Lula e Jair Bolsonaro. Aliás, políticos populistas, demagogos, autocráticos e messiânicos costumam pensar, falar e agir de modo, senão igual, ao menos muito semelhante. O que lhes falta de ética e conteúdo, sobra de picaretagem intelectual.
Já o lulopetismo, anterior ao bolsolulismo, é algo diferente. Trata-se apenas da dependência irrestrita – e existencial – do Partido dos Trabalhadores (PT), e da esquerda brasileira em geral, da figura de Lula da Silva, a sedizente “alma mais honesta do Brasil”, o Rei Sol tupiniquim do “nunca antes na história deste país”.
Após a primeira eleição de Donald Trump, em 2016, que turbinou a vitória de Bolsonaro em 2018, o bolsonarismo e o trumpismo sempre andaram de mãos dadas, ou melhor, de coleira, sendo os brasileiros tutelados pelos americanos. Daí a expressão bolsotrumpismo, de volta após a vitória do republicano no ano passado.
Lulotrumpismo
A novidade, porém, é a recente modalidade autocrática, demagoga, populista, messiânica: o lulotrumpismo! Um vídeo hilário, com uma coletânea da versão trumpista do “nunca antes na história deste país”, circula pelas redes sociais americanas (veja abaixo ou clique aqui). Ao assisti-lo, imediatamente fiz a associação entre os dois “deuses supremos”.
Nele, Trump aparece, dezenas de vezes, dizendo-se o maior conhecedor do assunto – de todos os assuntos! -, de impostos a drones, passando por terrorismo e aço. Até meio ambiente e história o presidente americano jura, de pés juntos, ”Nobody knows more than I do” (ninguém entende mais do que eu).
O diabo é que centenas de milhões de pessoas, lá e aqui, e outras tantas mundo afora, não apenas acreditam nestes vigaristas intelectuais como passam a defendê-los – cega e incondicionalmente -, conferindo-lhes carta branca para implodirem seus países e, no limite, o próprio planeta. Como dizem por aí: “Só Jesus na causa!”
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Comentários (5)
Olinha
12.03.2025 16:35Ricardo Kertzman, sempre cirúrgico . 👏🏼👏🏼
Fabio B
12.03.2025 15:56A certa melhora que o país teve ironicamente foi graças às reformas que o Teme implementou no seu curto governo. E mesmo a reforma da previdência que ele deixou de presente pro Bolsonaro, na linha do Gol, o Bolsonaro teve a proeza de esvaziar e diminuir muito de sua eficiência. E muito da crise que passamos hoje, é graças ao Bolsonaro ter feito o Diabo, igual a Dilma na tentativa fracassada de se reeleger. Não passas de uma versão piorada do Lula e Dilma, na desonestidade e incompetência.
Fabio B
12.03.2025 15:52KKKK, o caso do colega Angelo é exatamente do que trata o artigo. O mesmo nem percebe que é um vítima abusada e eternamente iludida... Tenho certeza que se algum petista lesse este artigo, fantasiaria da mesma forma as supostas qualidades do Lula. A única coisa que o Bolsonaro fez foi "consertar" pro sistema, traiu as pautas das quais foi eleito, destruiu a Lava Jato, reergueu os partidos corruptos do centrão que foram afetados, principalmente o PT. Ajudou a tirar o Lula da Cadeia e como cereja do Bolo, conseguiu perder uma reeleição para que o mesmo fosse eleito presidente.
Angelo Sanchez
12.03.2025 15:36Até hoje ninguém conseguiu definir Bolsonaro, mas, consertou muito o nosso País nos dois anos que governou, com legislação que até hoje geram empregos, os outros dois anos foram apenas gerenciamento de uma pandemia que parou o Brasil e o mundo. O "decondenado" destruiu o nosso país com escândalos gigantescos de corrupção nas estatais, a esquerda está mostrando que o crime compensa.
Fabio B
12.03.2025 15:13Bolsonaro e Lula são mais parecidos do que seus seguidores querem admitir. Ambos vieram do sindicalismo corporativista, nunca foram chegados a trabalho de verdade, são limitados intelectualmente e se sustentam em uma mitologia absurda sobre si mesmos. Cada um com sua legião de devotos, exploram e enganam o eleitorado sem um pingo de vergonha.